domingo, 17 de abril de 2011

abraço



Quando meus devaneios tornarem-se pranto e minhas palavras loucuras desmedidas, somente me olhe, me abrace e me diga ao pé do ouvido: eu estou aqui. Quantas vezes for preciso, até que ecoe em mim como verdade, ainda que não seja sincero e eu saiba no fim que é só pra apaziguar todo meu tormento, meu desalento, meus olhos que fitam pedindo um abrigo. Quando a dor da solidão bater forte e as lágrimas já tiverem ido, quando o cansaço quiser me vencer, apenas me abrace. Por um instante, pra que eu possa ter por segundos uma fortaleza pra me esconder do mundo e de todo mundo, mandando danar-se todo incômodo pra que só reste nós dois enlaçados em calor e sentimento. Ainda que não seja amor ou coisa assim, ainda que eu necessite mais de ti que você a mim, ainda que os desencontros sejam tantos e tão constantes. Eu acreditarei, ainda que a dúvida persista por muito, martelando fina e chata. Quando o desespero aparecer, o sufoco alcançar, a rotina tomar todo cuidado e toda paciência. Me abrace. Me abrace e esteja aqui. E por seu alento, esperarei incansávelmente.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

cores,


Olhava-se no espelho, analisava cada pedaço de pele da sua face, cada marca e linha de expressão. Olhava-se, mas não se via. Via um alguém desajeitado, sem graça, que não cabia naquele sorriso ensaiado para se parecer bem. Seus olhos pareciam oceanos, não pela cor, são castanhos comuns como os de pessoas comuns que cruzam com a gente na rua feito figurante de filme que a gente nem repara, mas pela profundidade. Abissais, do jeito que pode perder-se facilmente só de olhar, de fitar, de canto-olhada. Mas a imagem refletida não cabia em si, não cabia em seu mundo, em o que era interiormente. Via-se como alguém não feita para ser vista, como aquele monstro que se teme por estar embaixo da cama,que sabe que se sair vai perder o medo e achar graça. Não se aceitava, se repugnava, se achava feia, se achava nada, na verdade nem se procurava. Evitava chamar atenção, crendo que se assim fosse seria por estranheza e bizarrice de seu ser, e nunca por beleza ou atributo qualquer. Não era modelo de capa de revista, nem dentro de algum padrão, isso era verdade, mas era única, era ela e por suposto era rara. Mas não se dava conta, não se permitia e assim deixava de viver. Deixava de sorrir verdadeiramente, deixava a alma se entristecer. Mas um dia desses corridos que a gente não tem tempo de reparar em nada, passou em frente ao espelho ao qual se via todo dia. E notou que ele tinha uma rachadura bem no meio, e sem nem lembrar que se bateu nele outro dia, vai no quintal para jogá-lo no lixo. E era uma quase três da tarde,o sol tinia lindo, a meia altura, 45° graus. E bateu no espelho, e refletiu. Refletiu cores, arco íris, ondas luminosas. E então a rachadura iluminou-se de um bonito diferente, dois fachos convertiam-se  opostos e se fundiam nela, de uma forma que nunca tinha visto antes, totalmente nova. E ela então viu beleza na imperfeição. Viu beleza no desconexo, no torto, no anti-padrão. E comprou outro espelho. E olhava-se nesse, e via-se. Via-se cada marca, cada detalhe de pele, cada linha de expressão. E viu. Viu que aquela marca era esquisita,mas um tanto engraçada, e que nem percebe-se tão facilmente, e é até menor do que ela achava. E viu também aquela linha que dava no sorriso, e o sorriso era bonito, mostrava os dentes certinhos, os lábios vermelhos meio desbotados, daqueles de batom gasto, de beijo de canto. E entendeu seus olhos. Seu castanho aparentemente comum, que agora mostravam-se doces como nenhum outro, nem claros, nem escuros, castanho seu, de amêndoa. E viu sua alma despida, como que despertada de um sono profundo. E viu seu oceano. Seu mistério transbordado, seus labirintos desvendados. E se viu como as cores na rachadura, se descobriu rara, arco-íris luminoso, fagulha incandescente. E saiu, para mais um dia desses apressados que a gente nem repara nos figurantes na rua. Mas dessa vez sustentando um sorriso tão leve, tão solto, que nem se importava se chamava atenção. E por suposto chamava, não por ser quase capa de revista, o que não era, mas por ser ela. Por ser única. Por ser rara. Por ser arco-íris imperfeita em rachadura.


:)

domingo, 10 de abril de 2011

De repente há um sufoco desses que aperta o coração, trazendo aquela vontade de chorar e a gente para, respira e tenta esconder pra não se desmanchar ali na frente de todo mundo. E é estranho, é uma dessas coisas que não se consegue explicar, e que o povo dá mil explicações de trocentas doenças, quando a gente sabe bem que isso é coisa do coração e não do corpo e seus pedaços. Parece até que é uma emoção ao contrário, dessas que doi e dá medo, e nada faz parar, e até os momentos bons somem, abrindo buraco e espaço pra sensação ruim. E martela, a dor na cabeça, o olho querendo aguar, e tentando entender, e tentando respirar. Mas o ar não vem, o ar não vem, o ar vai embora.



:/