terça-feira, 20 de dezembro de 2011

20.12.2012


E acordei pra mais um dia desses que a gente não espera nada além de aulas chatas e muita vontade de dormir, depois de apenas 5 horas de sono. Dia qualquer, como todas as terças o são, como geralmente meus dias têm sido, salvo pelo desespero de algumas provas marcadas em datas coladas só-pra-pirraçar-nossa-tentativa-de-descanso. Há muito não crio muita expectativa pra nada, acho que meio deixando o que vier ser lucro e surpresa. Mas esse 20 de dezembro soou mais como corte de linha presa no braço a qual ainda queria me prender mesmo após o balão ter soltado e voado para além-céu. Acho que foi um empurrão dos céus, do acaso, do sei lá o quê. Aquelas situações das quais não tem como fugir e só resta enfrentar. E assim foi. Pós-susto-quase-um-piripaque, o ar nos pulmões recolocou-me no chão. Respirei fundo, tirando serenidade não sei de onde, mas definitivamente bem-vinda. E acho que acabei acordando do sonho que desejava ser verdade sabendo que nunca o seria. E no final das contas, me descobrir muito forte do que achava ser. Não forte pra suportar fingir pra mim que já tinha me desligado. Forte o bastante pra saber que não havia outro vínculo senão aquele do início de tudo. Nítida o suficiente, pra saber que não restava nenhum pedacinho a mais que pudesse me fazer carregar um peso desnecessário. Sincera ao máximo, pra poder me orgulhar e deixar todos os balões fluírem para onde a vista não mais alcança, em um lugar onde possam ser livres para decaírem ao chão desgastados e vazios de todo ar que pesava e agora purificava novamente meus pulmões, trazendo vida e respirando o alívio e sossego de saber quando deixar que as cordas se desprendam e as linhas imaginárias se apaguem de uma vez.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

:)





Que tudo vai passar algum dia. Todo desespero, toda dor torta, toda vontade de largar tudo e sair correndo. Todo o vazio depois de um dia cheio de gente, todos os choros desperdiçados no escuro. Era a sua única certeza, e por isso mesmo, de onde advinha toda a força do seu sorriso. (:

sexta-feira, 4 de novembro de 2011



Emaranhada em suas teias
Em seus monólogos não estreados
Um espetáculo de medos e coragem torta
Uma imensa contradição de pressupostos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

sob o céu


Que confessos sejam aos céus os mais velados e tórridos segredos daqueles dois amantes. Naquela noite estrelada em que convertidos em silêncio as mãos entrelaçaram-se e suas almas se fundiram testemunhadas pela luz da lua. Sob abrigo da noite, como réus complacentes, derramaram um ao outro o mais puro amor e o mais carnal desejo. Consumidos em vendaval de calores e compulsões, esgotados até a última gota de mar, inebriados de respiração entrecortada de fôlego e falta de ar. Unidos em corpo, corações ao mesmo batimento acelerado, sintonizados no mesmo ritmo apaixonado, embalados pela brisa beira-mar. Vivendo entre murmúrios e juras eternas, a derradeira noite de despedida. Dizendo nos olhares e beijos a mais verdadeira declaração de amor foram em opostos caminhos, sepultando dentro do peito a certeza de que estavam para todo o sempre ligados e que assim fosse até que o destino os cobrisse mais uma vez sob seu sagrado manto.



domingo, 2 de outubro de 2011

in

Querer algo, querer força, querer sentir alguma coisa nova, especial, algo que no fundo da alma você sabe que merece. Olhar pra dentro de si e perceber que tem algo de bom guardado lá no final de todas essas angústias, dúvidas e torturas diárias, acreditar, acho que essa é a palavra. Acreditar que o pote de ouro está ali, do lado de dentro, e não no fim do arco íris. 


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

...ação!

Sempre achou baboseira essas perguntas meio-auto-ajuda-meio-psicanálise de quem sou eu, como se imagina daqui a 30 anos, o que você espera do futuro. Para Coralina, Cora para os íntimos, o tempo era só questão de ponto de vista, e a vida vários frames vividos em segundo. Como cenas de filme antigo que adorava assistir, onde apenas os mais atentos notavam os detalhes, os milésimos de segundo que interrompiam um corte e outro dos takes. Gostava de imaginar-se em preto e branco, com as cores surgindo e esvaindo como quem expira e inspira o ar. Nunca soube dizer se encaixava-se ou não em algo, sempre esteve nos dois lados da moeda, presença e nuvens, mente e desleixo. Sabia que era algo, mas não gostava de definir-se ou descrever-se, para isso haviam os tantos livros em que se atirava, vivendo cada aventura, cada drama, cada novo começo e cada final conturbado, subentendido, incerto ou heróico. Na ânsia de viver mais uma história, entrou como de costume na livraria perto de sua casa, para sentar no seu lugar de sempre, um canto escondido ao lado da ultima estante, grudada a uma janela cor de ouro velho, emoldurando um enquadramento perfeito do jardim municipal - patrimônio da cidade, construído em 1946, em homenagem às vítimas da guerra, diziam os mais velhos - e distância considerável da máquina de café. Seu reino momentâneo, onde se enfurnava sobre os livros como quem devora um prato de comida após vários dias de fome, seu refúgio de todas as horas, sua fuga diária do mundo todo. Não estava afim de muita conversa, pegou o livro na estante B, literatura nacional, que ficava junto ao balcão e deu de ombros ao chamado de Mário, o funcionário chato com mania de limpeza, que sempre reclamava dos papéis de bala que Cora deixava de pirraça em cima da mesa. Ainda bem que ele estava atendendo um cliente, pensou, enquanto colocava o livro na mesa e ia com a ficha na mão em direção à máquina de café. Agora não faltava mais nada, livro, café e balas, sorriu. Quando ia atirar se atirar na cadeira, notou uma mochila entreaberta na cadeira, com um livro de capa marrom aparecendo. Como se atrevem a estar em sua cadeira, em sua mesa, em seu lugar? Desde que abriu, há mais ou menos uns dois anos, todos naquela livraria sabiam que aquele era "o" lugar da menina tímida-meio-espevitada cor de caramelo. Respirou fundo e preparou-se para começar uma terceira guerra mundial, quando sentiu tocarem seu ombro. 
- Quem é você? Perguntou um menino de cabelos encaracolados, óculos escuros e bochechas coradas.
- Oras, Eu é quem pergunto! Quem é você e o que faz em meu lugar? Não está vendo que tem um livro ai em cima? 
- Desculpe, eu...
Cora! Mario berrou enquanto vinha arfando em sua direção. - Esse aqui é Marcelo! Foi o que eu tentei te explicar, mas você nem me deu ouvidos. Ele é novo por aqui, e esse é o único lugar que fica perto da estante com os livros em braile!
- Ele é...
- Cego?! Sou sim, por isso não reparei que você tinha chegado. Ia justamente perguntar se o livro era seu.
- Er... me desculpe! 
- Não tem problema, me desculpe por ter pego o seu lugar. Vou trocar para outra mesa. Então você é Cora?
- Meu nome é Cora! Eu sou.. é, eu sou Cora! E acho que cabe mais uma cadeira aqui!
E sentiu então que a partir dali já não bastavam frames. O roteiro fora traçado pelo destino e o filme corria nas horas eternizadas daquela tarde. 



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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

des-aguar



Era margem de que segue o curso certo, de planície, preso em represa, lagoa sem ponte e sem navegação. Sem cachoeira, de nascente descontente, a desaguar em si seus pormenores. Constante, sem afluente, sem aprender a doar suas águas, sem se permitir banhar ou se beber. Água parada a esperar encher, quantidade certa e balanceada, se evaporar e receber. Cinzentas nuvens voltam mais um dia pra cumprimentar, deixar sua parte como de costume, piloto automático de chuva. Vento turbulento, neblina seca, rasgos de folhas e galhos por todo lado. Chuva forte, águas agitadas escapando pelas beiradas, a se perder em curvas desconhecidas, encorpando, braços abertos apagando limites marginais. Sentiu dilatar suas veias, aumentar sua vazão, derrubou cílios e tijolos, chocou em pedras grandes, terras cor grená, perdeu-se por completo. O sol a arrancar-se por espaço, arco-íris e azul do céu. Riu e viu-se monte acima. Não mais planos, não mais plano. Riu e rio viu-se mar. Não lagoa, a léguas das águas antigas. Planalto, queda d'água, queda livre. Fez-se mar. 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

a ti



Dedicar-te-ei imperfeitas canções, de melodias imaginárias que toco sem saber em acordes acasos, errados e desritmados 
Dar-te-ia meus sorrisos, minhas conversas gesticuladas, meu timbre alto e demasiado agudo, meus olhares envergonhados, meus sentidos aflorados em lua cheia
Fazer-te-ia mil poesias, prosas, trovas, letras de musicas, cronicas-matinais-de-jornal-antigo e todo tipo de escrito que te traduzisse em algo findo e terno
Entregar-te-ia meus choros sufocados no travesseiro, meu ciúme por meus objetos, minha mania por cheiro de livro e meu brilho no olho por vitrines
Admirar-te-ia a cada dia e a cada por de lua, a cada folha decaída, decomposta e recomposta em flor na primavera
Ver-te-ia com o coração a pino, com concepções mudadas, com planos de curta duração e vontades longinquamente permanentes
Ia, a dedicar-me, a dar-me, a fazer-me, a entregar-me, a admirar-me a ti, de ti, em ti, para ti, pronome oblíquo, segunda pessoa do singular


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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Qual é a desse pranto que se derrama e me afoga num choro calado na madrugada? Será cansaço de tentar e não compreender os infortúnios do desamor? Será vestígio de poeira varrida pra debaixo do tapete? Ou seria só mais um punhado de pequenas coisas amontoadas, gotas líricas de cotidiano engolido e engasgado decidido a se repudiar contra as glândulas lacrimais?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

duo



Planta teu olhar em mim, pra ver se um dia brota nesse solo pobre qualquer broto verde, qualquer fruto doce. Nutre de emoção meu ser, pra ver se a gente alinha igual planeta, igual zodíaco e paraíso astral. Joga seus mares em mim e bebe toda água em cada curva feita de concha, mergulhando em cada pedaço de pele que me cobrir. Toca cada acorde e som, encanta com seu tato e sua voz a me cantar. Me veste, me despe, me tome pra si e se entregue em mim para que caiba em nós dois metamorfoseados em um. Me embale em sono e sonho, com seu sorriso bobo a arrancar suspiro, adormeça nesses olhos tontos embriagados de você. Deixa seu perfume no meu travesseiro, que te guardo em devaneio, em delírio, em amor e a cada dia novo logo de manhã, planta teu olhar em mim e faz primavera todo meu ser.

  

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

o homem do lado de fora.



Vendo a vida pela janela do lado de fora, olhando pra dentro, vendo gente entrar e sair da sala, pensando o que estaria escrito naqueles quadros negros de cor branca, manchados de azul de piloto mal apagado. Do seu lado não enquadrado, verde mato, cheiro de terra, de trabalho, solitário, vagando na amanhecência enquanto por ele passam mais uns sem enxergá-lo, ele quase como uma sombra, como se não existisse. Descendo as escadas cinzas, cabeça em nuvens, sol a pino, pausa pro almoço. Meio dia, mais da metade ainda a passar, suor escorrendo, mãos calejadas, unhas sujas de terra. Canto de pássaros a procura de abrigo, sol baixando após tarde lenta, céu lilás alaranjado, estrelas querendo despontar fagulhas, lua crescendo, crescente, anuviada. Estrada, pés apertados no sapato, corpo tombando de cansaço, beijo de chegada, sono turbulento de poucas horas. Café, leite e pão de sal, beijo de despedida, mais um dia de sustento, abre as janelas, parte com o vento, o sol ainda sem acordar, pé na estrada, homem se vai, a ver a vida emoldurada entre as janelas alheias, do lado de fora, do lado de dentro de si. 


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terça-feira, 26 de julho de 2011

mantra

Meus dias serão dedicados a busca de mim mesma, posto que assim seja até eu me descobrir. E todos os dias me repetirei: sou e amanhã serei melhor ainda. Mil vezes ses preciso. Até que isso esteja fixado em cada ponto do meu ser.

verde, ver-te, verte, vérice, vertigem, verdade, vestígio.



Viu em um encontro torto a brecha de sentir, percorrendo todo seu corpo, a adrenalina do momento. Sorriu, sem saber se lhe seria retribuído e em uma gentileza quis tomá-lo para si naquele instante. Não sabia nome, não sabia nada e nem procuraria saber, só queria mergulhar em seus olhos verdes e quiçá trocar meias palavras. Segundos. Foi o tempo que parou pra que durasse o mistério e o mar. A olhada de lado, o ensejo de qualquer coisa e o caminho a percorrer de volta aos corredores.


O que carrega nesse passo lento, rápido em dança e em desapego, é todo um ceticismo exarcebado de não crer em nada além do racional, de deixar de lado toda construção de encantamento e persuasão, sempre necessários, embora constantemente previsível. Sempre ficando no mesmo, no que se esperava, no nexo causal resultante dos mesmos efeitos de sempre. Deixando apenas o desconhecimento e o vazio de depois. A emoção desgostosa de ser facilmente esquecido em algum canto da memória, um número a mais em uma lista, um nome em uma agenda velha e bem guardada. Uma constante luta para anestesiar-se de todo sentimento, de toda leveza, de todo suspiro. Um ritmo descompassado de um regrado comportamento desligando-se de toda magia forçada e fadada a frustração.

domingo, 17 de julho de 2011

?


Realidade, será um sonho acordado? Uma virtualidade construída, um conceito conveniado criado para nos tirar do mundo mágico? Por vontade de explicação e de porquê passei pelos teoremas, pelos catetos, pela seleção natural, pela psique. E continuo com sede de saber. Saber sobre mim, sobre o redor, sobre o real. E o que não é real? Será impossível ou meramente improvado? Será olhos acordados? Será contrário de sonhar?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Piloto automático

Esse nada, esse rasgo cortante, engasgo de ócio misturado com ódio, com lágrima. Desatinado de percorrer caminhos circulares, de voltar pro ponto de partida, de não se resolver, de não buscar querendo achar e procurar em vão, sem resposta, sem cabimentos, encaixes mesmo tortos, que se complementem ao menos em um ponto de qualquer coisa. Raiva sabe lá de quê, dos hormônios, do mundo, de si. Revolta casual sem causa, sem cor. Preto e branco mudo, como tempo distante, memórias veladas, fundo-do-baú. Talhando a carne, recortando nuances e desviando caminhos, linhas, difuseando tudo até ficar só o desfoque. Procurando o que sentir, o que dizer, escrever, o que respirar, suspirar cansado, ofegante, apneico. Tentativa de chorar sem água com sal, chorar o que vier, o que tiver que se chorar, sem se ter nada, e ainda assim insistir. Riscando, pintando à giz de cera os fatos, apagando mal apagado os atos, em auto relevo com corretivo branco, sujando as mãos, lavando em vão a sujeira, que fica impregnada, até rasgar o papel, chutar o balde, a bacia, o que tiver pela frente. Até deixar tudo no estrago, o acaso levando, o coração penando, a vontade sem vontade, a vida sem guidom e sem volante. 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

calejados


E toda doçura, onde se derramou? 
Em que curva da vida, pingo de chuva,
Em que espinho, flor, se converteu?
Porque criaste muros e abismos, se no fundo sabia
Que ao tornar-se pedra, ao que antes era, jamais retornaria?





terça-feira, 10 de maio de 2011

brasa e carne-viva



Já não gastaria lápis, letra e papel se a certeza viesse para selar esse amor ao qual me fui submetida por tropeço do destino. Dos clichês tantos, fui fadada ao mais redundante, doloroso e complicado de todos. Ao tanto que já me dei conta inúmeras vezes que não cabe mais fantasiá-lo em minha mente, posto que apenas posso deixá-lo no plano platônico e irreal. Já não me cabe depois de tantos desencontros acreditar em enredo de novela, mas ao mesmo tempo já não cabe sentir desse tamanho tanto o que carrego dentro do peito. Cem tempos, sonetos, anos de solidão. Mergulhei em meus mais profundos mares e afundei nas fontes das poesias e livros a fim de tirar-te de mim. Mas como dor crônica e aguda, você vem a badaladas me lembrar do sentimento que o seu ser me traz. Não há nenhum pranto, nenhum sentido e nenhuma boca que contenha a vontade de enlaçar-me em teu corpo feito ímã. Não há abismo em que eu caia pra tentar sair depois. É um círculo vicioso, como praga que corrói até exaurir-se toda carne. E desse modo, te amo sabendo que queimo a cada dia nesse fogo que não se findará até que em brasa e carne viva esteja, arruinado, meu coração.

segunda-feira, 9 de maio de 2011



Garganta arranha. Tenta engolir, não consegue. Não cospe, não desce, não deglute. Embola, entala, breca os movimentos peristálticos. Incomoda, machuca, mas deixa. Não desfaz o nó e ele fica ali. Preso, inerte, fixo. E o choro não vem, a cabeça doi, o cansaço se aloja. E acostuma com ele, esperando um marinheiro que desate, uma água que dissolva ou uma explosão que varra pra dentro - ou pra fora, o fio emaranhado de sentimentalismo, descrença e desilusão. 

sexta-feira, 6 de maio de 2011



Gosto do seu desconcerto quando me olha,
a fixação em desviar o foco e fingir que não está vendo
Gosto da sua timidez escancarada ao ter que me dizer alguma palavra, 
e o modo como te intimido, levando a dúvida quanto a intenção
Gosto de ser o prêmio no final do labirinto em que você se perde,
e deixa confundir os atalhos, embaralhando o caminho mais ainda
Gosto do seu gosto, e mais ainda do amargo que te faço sentir
a toda vem que, em vão, você tenta me desfrutar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

combustão



De tanto atrito fez-se faísca, e então do caos da oposição nasceu desejo entre os corpos. Fagulha intensa, chama gelada, despertando o coração,apagando amor antigo, criando paixão. Tórrida, de azucrinar juízo, proibida em suas convenções, controversa em suas complicações. Daquele jeito imã. Foi consumida, não consumada, restando quase vela toda e pavio pouco queimado. Foi apagado pela boa mocice dela, foi amordaçado pela canalhice dele. Mas ainda vive. No magnetismo deles dois ao se encostarem, a espera de um acidente no percurso, um combustível, que reacenda a chama e a faça arder até secar toda vontade e toda parafina.



domingo, 17 de abril de 2011

abraço



Quando meus devaneios tornarem-se pranto e minhas palavras loucuras desmedidas, somente me olhe, me abrace e me diga ao pé do ouvido: eu estou aqui. Quantas vezes for preciso, até que ecoe em mim como verdade, ainda que não seja sincero e eu saiba no fim que é só pra apaziguar todo meu tormento, meu desalento, meus olhos que fitam pedindo um abrigo. Quando a dor da solidão bater forte e as lágrimas já tiverem ido, quando o cansaço quiser me vencer, apenas me abrace. Por um instante, pra que eu possa ter por segundos uma fortaleza pra me esconder do mundo e de todo mundo, mandando danar-se todo incômodo pra que só reste nós dois enlaçados em calor e sentimento. Ainda que não seja amor ou coisa assim, ainda que eu necessite mais de ti que você a mim, ainda que os desencontros sejam tantos e tão constantes. Eu acreditarei, ainda que a dúvida persista por muito, martelando fina e chata. Quando o desespero aparecer, o sufoco alcançar, a rotina tomar todo cuidado e toda paciência. Me abrace. Me abrace e esteja aqui. E por seu alento, esperarei incansávelmente.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

cores,


Olhava-se no espelho, analisava cada pedaço de pele da sua face, cada marca e linha de expressão. Olhava-se, mas não se via. Via um alguém desajeitado, sem graça, que não cabia naquele sorriso ensaiado para se parecer bem. Seus olhos pareciam oceanos, não pela cor, são castanhos comuns como os de pessoas comuns que cruzam com a gente na rua feito figurante de filme que a gente nem repara, mas pela profundidade. Abissais, do jeito que pode perder-se facilmente só de olhar, de fitar, de canto-olhada. Mas a imagem refletida não cabia em si, não cabia em seu mundo, em o que era interiormente. Via-se como alguém não feita para ser vista, como aquele monstro que se teme por estar embaixo da cama,que sabe que se sair vai perder o medo e achar graça. Não se aceitava, se repugnava, se achava feia, se achava nada, na verdade nem se procurava. Evitava chamar atenção, crendo que se assim fosse seria por estranheza e bizarrice de seu ser, e nunca por beleza ou atributo qualquer. Não era modelo de capa de revista, nem dentro de algum padrão, isso era verdade, mas era única, era ela e por suposto era rara. Mas não se dava conta, não se permitia e assim deixava de viver. Deixava de sorrir verdadeiramente, deixava a alma se entristecer. Mas um dia desses corridos que a gente não tem tempo de reparar em nada, passou em frente ao espelho ao qual se via todo dia. E notou que ele tinha uma rachadura bem no meio, e sem nem lembrar que se bateu nele outro dia, vai no quintal para jogá-lo no lixo. E era uma quase três da tarde,o sol tinia lindo, a meia altura, 45° graus. E bateu no espelho, e refletiu. Refletiu cores, arco íris, ondas luminosas. E então a rachadura iluminou-se de um bonito diferente, dois fachos convertiam-se  opostos e se fundiam nela, de uma forma que nunca tinha visto antes, totalmente nova. E ela então viu beleza na imperfeição. Viu beleza no desconexo, no torto, no anti-padrão. E comprou outro espelho. E olhava-se nesse, e via-se. Via-se cada marca, cada detalhe de pele, cada linha de expressão. E viu. Viu que aquela marca era esquisita,mas um tanto engraçada, e que nem percebe-se tão facilmente, e é até menor do que ela achava. E viu também aquela linha que dava no sorriso, e o sorriso era bonito, mostrava os dentes certinhos, os lábios vermelhos meio desbotados, daqueles de batom gasto, de beijo de canto. E entendeu seus olhos. Seu castanho aparentemente comum, que agora mostravam-se doces como nenhum outro, nem claros, nem escuros, castanho seu, de amêndoa. E viu sua alma despida, como que despertada de um sono profundo. E viu seu oceano. Seu mistério transbordado, seus labirintos desvendados. E se viu como as cores na rachadura, se descobriu rara, arco-íris luminoso, fagulha incandescente. E saiu, para mais um dia desses apressados que a gente nem repara nos figurantes na rua. Mas dessa vez sustentando um sorriso tão leve, tão solto, que nem se importava se chamava atenção. E por suposto chamava, não por ser quase capa de revista, o que não era, mas por ser ela. Por ser única. Por ser rara. Por ser arco-íris imperfeita em rachadura.


:)

domingo, 10 de abril de 2011

De repente há um sufoco desses que aperta o coração, trazendo aquela vontade de chorar e a gente para, respira e tenta esconder pra não se desmanchar ali na frente de todo mundo. E é estranho, é uma dessas coisas que não se consegue explicar, e que o povo dá mil explicações de trocentas doenças, quando a gente sabe bem que isso é coisa do coração e não do corpo e seus pedaços. Parece até que é uma emoção ao contrário, dessas que doi e dá medo, e nada faz parar, e até os momentos bons somem, abrindo buraco e espaço pra sensação ruim. E martela, a dor na cabeça, o olho querendo aguar, e tentando entender, e tentando respirar. Mas o ar não vem, o ar não vem, o ar vai embora.



:/

terça-feira, 29 de março de 2011

cheio, metade, um quarto: de café, de meta, de fazer

Acordei até achando o dia bom, na verdade achei normal, mas pelo menos não o maldizi ou não desesperei de algo bom que viesse a vir. Mas mal cheguei na esquina e logo cedo ele me prega peça, e puxa tapete até manhã terminar. Não sei se ruim, mas até que me foi de um pouco grado a bagunça que o dia me causou, mas acabei por não aproveitar quase nada do embaralho. Tinha coisa por fazer e a meta era fazer metade até terça. Mas hoje é terça e não fiz metade, fiz metade da metade, mas ainda falta um quarto pra virar meio. Tenho pouco tempo pra fazer, mas sei não se ainda dá. Não por preguiça pura, mas por mais chatice desse dia doido, que me trouxe dor de cabeça que tentei passar com banho quente e acabou que to de cabelo molhado e de cabeça doendo mais. Queria fumar um cigarro, mas lembrei que não sei fumar e mesmo se soubesse não gosto e não tenho, mas se tivesse e pudesse talvez até fumasse caso de quê vai que melhorasse na cabeça a dor. Acho que vou querer café, ou melhor quero café, e ei de buscar logo que terminar isso aqui de escrever. Até porque tenho quase duas horas e meia pra que esse embaralho do dia de hoje termine e metade de meio da meta da coisa por fazer que tenho. E vai que é por sorte ou por azar, mas não sei, vai que esse dia assim não termine tão ruim quanto presumo que ele foi, mas ta difícil e vou mesmo é ali na cozinha pra pegar um cadinho de café pra ver se passa nessa cabeça a dor, quer dizer essa dor de cabeça.




ps: na caneca, diga-se de passagem.


domingo, 20 de março de 2011

Lua.




E da janela do meu quarto, a Lua. Coberta de nuvens, Ela, a dos apaixonados, cheia e linda se esconde como que me dizendo: -Coração sem amores, não merecendo meu brilho, permanecer-te-a sem vislumbrar minhas trasmutações em fachos de luz e sem inspirar-se em minha rara apresentação, enquanto vazia e só apresentar-se defronte a mim.



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Então fechei a janela e sai de casa, como que escomungada pela rainha profana que parecia esquecer de sua discípula. Blasfemando carências e desacasos, esquecendo de que me levei a esse caminho solitário por vontade própria. E lá pelas quase dez, depois de tantas frustadas olhadas ao céu, pude ver a Lua, a que tanto queria prestigiar, e ela permanecia ao alto, longe, intocada, intocável. Distante, embora iluminando toda a rua. E quis poder ter asas, para chegar mais perto dela, para que pelo menos um milímetro de sua luz pudesse me contagiar, para que meu vazio fosse novamente preenchido, e assim sendo que pudessemos ser amantes na solidão, onde eu, debruçaria-me todas as noites à janela, como lobo enamorado perante a toda sua magnitude.



quarta-feira, 16 de março de 2011


Grito, mas ninguem ouve. Estou afônica, muda, parada enquanto meus pés se movimentam sem sair do lugar, como numa esteira rolante invisível. Sinto o caos se aproximando, soprando '- não há como fugir' enquanto me tira todo o ar. Não há esconderijo, não há porta de saída, nem janela, nem abismo pra se jogar. É tudo claro. A escuridão se faz dentro de mim, no meu corpo corroído de mágoa e palavras não ditas. Toda vontade se desfaz como papiro em vinagre e tudo perde sabor. Tudo se torna só sufieciente, só sobreviver, sem viver, sem desfrutar, sem ver boniteza. Carrego um fardo vazio, uma cruz podre e sem peso algum, um pesadelo de sonho bom, engasgo de ar. Um turbilhão me suga pra dentro de um redemoinho, estou girando, dando voltas, desesperando, até chegar a um lugar que desconheço (...)




ps: Quando eu descobrir qual é esse lugar continuo o texto, ainda que eu não saiba bem ao certo se ele é (ou será?) bom ou ruim.

sexta-feira, 11 de março de 2011




Vem e vão, passageiros, buscando sentido, seta ou direção, levando consigo pensamentos e idéias imprevisíveis guardadas só em si. A brisa anuncia os sonhos, os bocejos de sono e de tédio, enquanto o sol arranja buracos por entre os galhos na fraca tentativa de aquecer meu corpo. Ouço vozes longes, barulhos de construção e passarinhos, e os minutos esvaem-se sem nenhuma palavra sinfoneada. Olham contanto não vêem, fitam canto-de-olhadas tímidas e breves sorrisos de míseros segundos. Diferentes, tentando se afirmar, se esconder em gente, se perder de mundo, se ser único, enquanto se equalizam em buscar um sentido que não há em meio e fim algum.

desfoque



Vi. Não sei se era. Me falta lembrança mais nítida daquela noite cheia de gente onde te tirei pra dançar. Devia ter perguntado, devia ter dito um oi. Devia fazer tanta coisa que não faço nada. Mas que ia dizer? Foi você naquele dia? Foi você que não levou, nem pediu nada além de um beijo? Que me encantou dizendo como não dançaria? Vi. Acho que era. Queria que fosse. Espero que tenha sido preu relembrar você. Vi. Não sei se será. Não sei se falarei. Não sei se devo ou não falar. Não sei se você vai se lembrar como eu lembrei. Não sei se vou saber se é ou não. Mas já fiz oposto do que faço, quando coragem bateu naquela noite. Vi. E novamente tirarei para dançar.

quinta-feira, 10 de março de 2011

passo desengonçado






Junta tua boca em meu sorriso de te ver e embaralha suas mãos no meu cabelo arrepiando corpo inteiro
Me abraça mais forte e sente minha respiração nervosa em seu pescoço, enquanto você me gira mais uma vez tirando meu equilíbrio nesse passo de xote desengonçado
Vem assim, tão calmo, tão sereno me levar pra dançar ali do lado, me fazer rir de bobagem e de bobeira me deixar pensando em seu jeito canalha



;)

quarta-feira, 2 de março de 2011

equilíbrio distante




Vejo um linha a se formar entre meu ontem e hoje. E de uma forma estranha me pego sendo um alguem já superado há muito
Que a vida atua em ciclos, aprendi cedo. Mas nunca pensei sentir novamente um vazio experimentado aos meus 15 e poucos.
Muita vivência, paixões e fatos me levaram so ser que sou nesse momento, mas questões de tempos atrás ecoam em minha mente.
Sei que a sina do homem é buscar e questionar a tudo e a todo tempo. Mas devo simplesmente aceitar que minhas dúvidas nunca serão respondidas racional- ou irracionalmente?
Se é tudo convenção ou construção, se tenho uma revolução pulsando no peito e um jeito próprio de ver o mundo, porque agora quero conforto nas mentiras usadas para aquietar almas curiosas?
Porque quero um sentido direcionado, se atirei minha bússola ao mar e nunca senti a falta dela?
Sinto uma angústia que não sei explicar e perante a finitude da vida me recuso a aproveitar os segundos que tenho.
Quero por vezes lavar-me em lágrimas, mas lágrimas vãs não resolverão. Lágrimas pelo nada, pelo que sei que vai passar?
Sei que o vulcão redespertará, ainda que todas as forças gravitacionais insistam em manter as placas tectônicas inérteis.
Mas espero que não seja necessário sofrer um terremoto para que o desperte para um novo velho ciclo.



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Após transcrever para o blog esse texto notei um grande paralelo cíclico - ou será coincidência?- entre a data de criação desse blog (2007) onde eu tinha 15 e poucos anos e escolhi o título "Equilíbrio Distante" ao acaso e hoje (2011) onde eu com 19 anos me encontro num ponto onde o equilíbrio nem se nota de tão distante que está. Sempre pensei em fazer um texto que explicasse -ou ao menos tentasse- o fato de ter sido escolhido esse nome. E não sei se alguem vai entender o que quero dizer, mas esse texto explica bem isso. Sabe quando achamos que amadurecemos e crescemos deixando pra trás o que fomos e de uma hora pra outra voltam os medos superados, as dores curadas e as qualidades perdidas? Isso não quer dizer que regressamos ao estágio anterior ou voltamos a ser o que eramos antes (Como diz Heráclito: Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio), mas sim que estamos em um desequilíbrio, entre ciclos passados e futuros, e isso acontece para que possamos relembrar o que nos fez chegar ao que somos. Sempre nos confrontaremos com nós mesmos, sempre haverá gladiadores internos no coração, sempre teremos velhos amores para reviver. E talvez o equilíbrio sempre esteja mesmo distante, mas a vida se não fosse corda-bamba seria chata demais. É necessário o medo de cair para olhar lá de cima e sentir a adrenalina correr nas veias. É preciso atirar-se para sentir o vento no rosto, é preciso desequilibrar-se para chegar (perto) do equilíbrio.


:)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Há de amar apaixonadamente, delirando com o toque suave em sua nuca e o arrepio a lhe percorrer o corpo inteiro.
Há de apaixonar-se cada segundo pelo seu amado respirando do mesmo sopro de ar, matando a sede em corpo e suor e nutrindo-se de beijo e desejo
Há de completar-se na liberdade, prender-se ao nada e somente ser dono do coração e nunca de nada tangível
Há de ter paixão fulminante e amor para manter, desviando do fantasma da rotina e caminhando para qualquer lugar onde se tenham qualquer um, só importando as almas unidas e o calor da vida agraciada
Há de cair em um desmedido vale desconhecido e embrenhar-se em todas as densas florestas úmidas que houverem para provar um gole doce no cálice delicado a se conhecer por nome amor
sem receber nada mais que um risco enorme de se perder e nunca mais conseguir achar-se novamente, mas que há de se querer apostar todos os vinténs.

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Num papal rasgado de caderno todo sentimentalismo barato despejado à lágrimas e tinta preta. Lembranças do que um dia foi amor. Lembranças - e nada mais - esquecidas no fundo do guarda-roupa branco e prontas para serem atiradas no lixo da cozinha.

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

amor de vidro




O vidro quebrou-se e eu não vi os cacos, e nem queria. Me sinto acordada depois de um sono cego e profundo, o qual não me trazia sonhos, e sim contos que não eram reais e que eu sempre soube que não seria. Que alívio. Saber que tudo se foi, que os cacos estão no lixo, que o amor foi-se como chegou, sem perceber. Engraçado, aquele copo de vidro que tanto cuidei, que tanto quis, que tanto guardei, não me fez falta alguma. Agora tenho taças, onde bebo vinho e não coca, onde não preciso lavar com cuidado e com medo de perder. E como o copo, quando parei de pensar, de cuidar, de querer você, o coração parou de saltitar, de apertar de saudade, a boca parou de querer seu beijo, e os vidros do amor partiram. Sem deixar cacos, sem deixar vestígios, sem deixar marca, cortes ou lágrimas.

:)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

redenção

Era um dia chuvoso na primavera de 1756 e Adélia acordou feliz, após ter consumado a primeira noite de amor com seu único e eterno homem, o negro forte e bonito José. Levava uma vida miserável trabalhando incansavelmente na plantação, na casa da sinházinha e na senzala, mas apresentava um sorriso enorme que só sonhadores podem ter. Beirava os 15 - pelo menos é o que lhe diziam os mais velhos - e carregava no peito todo amor que nunca havia recebido até aparecer José, comprado da fazenda vizinha e cobiçado por todas as outras negras. De ancas largas, cabelos pretos cacheados e cheios, formosa na flor da juventude, Adélia parecia imersa em um mundo encantado, imaginado por ela pra esconder toda a realidade degradante que levavam. Trabalhou como nunca, ajudou Ana e Sinhá Vitória a se vestir para ir a missa, aprontou as galinhas para o jantar e limpou as feridas de Damião -açoitado a mando de Coronel Antônio. Mas nem o cansaço lhe tirava a felicidade, aquele era o melhor dia de sua vida, e ah, José agora era seu, só seu, pra sempre! E nada mais lhe importava. Mas veio a noite, veio o chamado da Casa Grande, veio o Coronel Antônio, veio os medos, o animal-homem. Veio o monstro a lhe arrancar a blusa, a invadir seu corpo, a lhe tomar seu sorriso e sua felicidade. Veio o sangue entre as pernas, veio a humilhação. E veio a dor que nunca sentira antes, veio a realidade a rasgar seus sonhos, veio bater a sua cara o fim da fantasia. Estava agora no chão da cozinha, jogada como bicho, emaranhada, soluçando em choro silencioso, oca, sem vida, sozinha. Seu olhar alcançou a faca em cima da mesa, veio a força e veio novamente o sangue. Seu coração rasgado de dor agora rasgava-se de faca. Veio José, delirava Adélia, balbuciava gemidos quase inaudíveis, José gritava, jurava vingança, mas a dor vinha ainda mais. - Eu te amo, eu te amo! foi o que conseguiu dizer e tudo se apagou. Tudo sumiu. E José dizia não me deixe, e eu tambem te amo, e não posso viver sem você, e não era vingança, não era ódio, mas era amor, amor o consumia, e ele arrancou a faca do peito de sua amada e cravou na propria alma, no proprio corpo, em busca de seu amor, em busca de sua mulher. E veio o sangue, um rio de sangue, uma união de sangue. E o sangue dos dois se misturaram, e os corpos mortos abraçados, selados num beijo de morte, jaziam no chão da cozinha, e a primavera se enchia de cores, e veio a chuva e veio o nada, veio o reencontro, veio a redenção. E as almas vagaram juntas rumo ao paraíso, e nada mais importava, e tudo era luz, e tudo era fantasia, e tudo era sonho de Adélia, e tudo era belo e tudo era amor, e delírio. E José era seu, ah, era seu, pra sempre, pra sempre!





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E se era realidade ou delírio não se sabe. Mas se pode escolher acreditar em um dos dois. Então, qual você prefere?

certas indefinições

Um certo medo de mudança, de expulsar o jeito que não lhe cabe, de crescer e agir como a idade que possui. Conflito interno de dois deuses que se degladiam entre infância e juventude, entre menina e mulher, entre se dar valor e ser egoísta. Não sabe ao certo o que é essa angústia que lhe aperta o peito, que lhe traz vontade de chorar por nada e por tudo, e nem tenta descobrir. Não lhe cabe tentar entender sua própria confusão. Procura em palavras alguma forma de prazer que satisfaça o desejo por afago, alimenta a alma como forma de alimentar o coração, e suborna seus sentimentos apaixonando e desapaixonando por ninguem e por todos.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011



Erros podem ser como facas atiradas por aquele cara do circo de olhos vendados
Mesmo quando todo o local onde as facas devem ser fincadas é milimétricamente preciso e treinado nunca se sabe onde elas podem atingir e por isso mesmo, não se sabe o dano que um desvio mínimo na rota pode causar. Pode ser um simples arranhão, um furo na camisa, ou uma marca qualquer na madeira. Mas pode-se atingir um braço, o estômago e até mesmo o coração da ajudante, e as cicatrizes nesse caso irão além de lembranças de um vento que passou ou de uma mão que tremeu.
Há riscos e há escolhas. Até quando achamos que não tivemos como evitar, podíamos sim ter feito algo diferente, e podíamos sim ter deixado marca - e dor - alguma.
É fácil cometer erros, o difícil é ter coragem para consertá-los e admiti-los.
É uma confiança perdida, uma chance passada, um aprendizado transformado.
Não se apaga vida com borracha, não se cura a mágoa que causou a outrem.
Mas o tempo se encarrega, e o caráter molda a atitude que deve ser tomada.
Pedir perdão é simples, e admirar a nobreza do perdão recebido é por si a maior dádiva - ainda que menos nobre do que quem cedeu esse perdão.
Mas assim como a prática aperfeiçoa a técnica de atirar adagas, deve-se treinar a capacidade de escolher e admitir que sim, fui eu quem errei e sofrer a consequência é o mínimo que se pode fazer quando se consegue simultaneamente ferir a dois ajudantes e a si mesmo.



-♥..

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

sobre planetas, cartas e amores




E nessa vida de amores minha órbita colide com seu planeta como em ciclos definidos pelo acasom onde a gente se bate sem compromisso e leva um bem querer de presente. Você é minha carta mais marcada, a posse que não tenho e não quero ter porque a gente é um indefinido que traz paz, que me faz acreditar num propósito de almas viajantes que não são gêmeas, mas aprendizes no amadurecimento nesse tão estranho sentimento que é amor. E esse carinho enorme que sencontro no seu sorriso tento refletir de volta pra você, que sempre esteve aqui, mesmo quando apenas te enxerguei como baralho que se joga vez em quando..
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enquanto

Foi um erro de vontade e zero sentimento que me fez finalmente - e depois de tanto tempo - ver que você era mais importante para mim do que eu imaginava. É seu jeito e seu sorriso e seu nada a ver comigo e sua barba e é você. E eu entendo que não sei se seu gostar ainda existe e se tenho algum merecimento e se quero futuro e se vai ter futuro, mas é você e isso é tudo que resta na certeza incerta e é o que basta enquanto meu coração acelerar ao te ver, enquanto for agora, enquanto tiver que ser.
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assimetria

Minha retidão convencionada ou não prefere linhas curvas à perpendiculares e assim me perco nos atalhos espinhosos desse desgastado gosto pelo imprestável.




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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011



Uma maçã mordida e se pode ver a alma emoldurada em seu olhar de poeta
São traços, são formas e lápis desgastado transfigurados em acordes como música soprando aos ouvidos palavras doces
Mas não são palavras, não são sentidos do vento ao ouvido atento ou despretensioso
É a visão aguçada com o subjetivo, com o belo não mostrado, escondido em uma assinatura
É a poesia feita pra se ver, arte concreta no que não se pode traduzir ou entender
É a vida captada no detalhe não percebido ou desprezado nas vãs filosofias baratas
São maçãs e gatos e coringas e traços, que se confundem no poeta que não conheci, na pessoa que não sei quem é, mas que pressinto sentir a alma no olhar e admiro pelo deixado num papel soprado pelo vento e apurado pela pupila que tenta traduzir em palavras o mesmo mundo que convertes em figura.




ps: a imagem que me inspirou é de um amigo de Tekinha, minha jardineira, amiga e colega de poesia e de vida, colocarei os devidos créditos assim que ele autorizar o uso dessa imagem - e espero que o faça, rsrs =]

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011




Me atirei ao mar, onde ondas espumam ao sabor do vento
numa mistura de branco com areia e azul do céu
naquela imensisão senti o gosto salgado da água gelada a me descer pela garganta
E meus pés dançarem livres sem tocar o solo
Era um misto de desespero e liberdade
Flutuar na imensidão do oceano misterioso a desvendar cada parte do meu corpo
Submersa, a luz do sol ia ficando distante, e a turva visão era completada com o fechar dos olhos
Mas não sentia medo, sentia a paz que não encontrava em terra firme
E ia, bailando, sorrindo, poetisando no mar oceano e se despedindo do mar da vida...
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terça-feira, 25 de janeiro de 2011


Pinto as unhas de vermelho, corto meu próprio cabelo, uso o que me convencer
Invento meu ritmo, meu descompasso, me injeto meu próprio veneno
É doce morrer nesse mar de lembrar diz em linha do Equador
Mas prefiro morrer e me perder no que virá
Meu mar de lembranças é infindo, cheio de sabores
E amargos que não quero sentir na boca
Então me jogo, me provo, me sinto
E pinto minhas unhas de vermelho pra me ver melhor

Um gole de água de coco bem gelada e nada mais




Pra diminuir esse calor que atinge minha alma e meu corpo




E hidratar os ressequidos caminhos por onde o amor passou




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sábado, 15 de janeiro de 2011


Nada por fazer, nada pra fazer, nada a se fazer
Um belo dia, desses que podem servir pra muita coisa, desses que a gente imagina coisa que sabe que não vai cumprir
Calor deixando vento quente, deixando a gente querendo brisa de mar
Expectativas que não se cumpriram, planos que não couberam mais descabidos
Rotina escondida nas mesmas coisas de todos os dias e quebradas com o que antes parecia rotineiro, como ficar fazendo coisa alguma quando se tem melhor opção
Cansaço das mesmas dúvidas de respostas simples que a gente não quer enxergar porque é bobo, ou porque é teimoso mesmo
Livros chatos que a gente não quer terminar de ler, mas termina por ansiedade de final previsível e tão chato quanto o início e o meio. Livros bons que não foram lidos sabe lá porque, e que o serão quando os eixos saírem do lugar
Tenta escrever, mas sobre o quê? Sobre o nada que se é presente ou sobre o que se quer e está ausente, sobre o real ou o irreal que é vontade de realidade da gente?
Até as confusões características não mais se confundem, e conclui firmemente que precisa de gente, precisa de presente e não futuro não passado, mas
momento, momento vivente vigente na hora que se vive, que é então o agora
Mas falta inspiração, falta imaginação porque cansou de só sonhar, mas sonha mesmo assim, sonha variado, e gosta de sonho, de sonhar, se sonha vivendo, embora se viva não sonhando
E persiste esse querer do que não existe, querer do que não sabe o que é, querer por que quer e só por isso
E continua com o nada, nada nesse dia quente, com vento quente e sol a pino
E quer se refrescar, mas não com água, com vida vívida que vive, com gelo e com fogo, com calor de gente e alma de brisa que se leva leve por ai


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domingo, 9 de janeiro de 2011

você, um alguem.




Os dia passam, o horóscopo muda, os passageiros do ônibus saem, os carros passam pela rua... e eu me pergunto: Cadê você?
Você, que eu nem sei quem é, mas espero que exista pra ter um sentido nessa coisa que chamam de amor
Você, que não precisa ser metade de fruta nenhuma, porque laranja, limão ou morango com vodka e açúcar já me é bastante bom
Você, que não precisa ser perfeito, porque isso eu não sou, nem príncipe encantado, porque já fui Borralheira, Julieta, até Isaura e de nada adiantou
Você, que não precisa viver comigo um final feliz pra sempre, porque tudo um dia acaba e o mundo gira tanto que que para é só um bobo-idiota-alienado
Você, que basta me trazer paz, inspiração pra minha poesia, sorriso pra alegrar e mais um colo vez em quando, além de, claro me deixar de pé e cabeça nas nuvens, que no chão já tenho até demais, e pra completar falta só um beijo daqueles de arrepiar alma e coração.
Você, que tem que existir pra fazer a porra dessa vida ser um pouco mais bacana, te peço apenas uma coisa:
Venha logo, por favor! Porque essa moça que vos fala já cansou de procurar em tanta gente e não achar um só alguém por quem suspirar.
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A chuva decidiu-se por cair e está forte agora
Faz um pouco de frio, mas não tanto
Bate um cheiro de maresia e com ele um clima de romantismo
Não sei se pelo momento ou pelos pensamentos meus olhos querem chorar
Não é a primeira, nem ultima noite em que me encontro imersa na minha solidão
Mas hoje a corda aperta mais e tenho vontade de alguém
Não sei que alguém seria, mas quero um colo
Um abraço onde eu possa me esquentar e afugentar meu mal-me-quer
Desejo de um beijo, mas beijo de verdade e com vontade, que dure uma eternidade e pare em qualquer lugar, até em baixo de edredon
Quero sussurro ao pé do ouvido dizendo que está tudo bem e até saudade eu queria se fosse ter certeza de que no próximo encontro o tempo iria estacionar
Não quero alguém pra ter posse, pra ser meu, gosto do desapego e da liberdade
Mas queria apenas alguém que fizesse um mero segundo valer a pena
Ainda que fosse por um dia ou por uma hora
Quero alguém pra recordar e ficar bem
Ou apenas alguém que sente na varanda comigo e veja a chuva cair sem querer nada além de um momento de paz e um sorriso em troca.




=/

(L)

Das minhas paixões súbitas você foi a mais duradoura e a mais cruel
Você tomou conta do meu coração de modo repentino que não sei explicar e do mesmo modo o feriu sem que eu pudesse fazer nada
Você não faz ideia de quão cortante pode ser a palavra amizade vinda de seus lábios e de quão inquietante pode ser o teu abraço
Das decepções que tive, apesar de não ter sido a pior, você foi a mais dolorida e inexplicável
Cada gesto teu me afundou para um abismo de confusos sentimentos que tento em vão explicar para mim mesma
E o qual ainda tento achar a saída de emergência
Como pode confundir-se tão cegamente amor e amizade a ponto de não poder destruir um sem levar o outro junto?
Como vou aceitar perder você por algo sobre o qual não tenho controle algum?
Espero acordar um dia com a certeza de que você não faz efeito nenhum sobre o ritmo de meu coração
Espero poder te ver sem tentar achar fragmento de outro sentimento em suas ações
Espero poder te guardar como um grande amigo e somente como isso.



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De tanta história que a gente passou junto me dói não ter nada pra guardar
Não que não houve momentos felizes ou bons ou inesquecíveis
Mas a indiferença que se estabeleceu em meu coração fez tudo evaporar como água quente
Eu tento pensar e lembrar de você como alguém especial, mas não dá pra mandar no que sinto
Cada lembrança tua aparece mais como um momento de cegueira ou burrice minha do que com a história de um primeiro namorado
Eu gostei de você por um tempo, mas não sei se te amei, como também não sei quando e porque o sentimento foi embora
Do nosso namoro de quase três anos ficou o que não quero para mim
De você ficou a incerteza, o vazio, a pergunta de como pude continuar com você todo esse tempo
Não sei se o erro maior foi meu ou nosso
Mas, infelizmente, os seus erros foram cruciais
Desculpa se não posso olhar pra trás e ficar com o gosto bom ou mesmo amargo de nós dois
Desculpa, mas é e foi melhor assim
Terminar com você foi a melhor coisa que fiz por mim mesma
Quanto a você, espero que não tenha que apanhar da vida para aprender o erro que insiste em cometer pela 5ª vez.



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As chamas dançam ao sabor do vento se contorcendo em suas cores embaralhadas. Ardendo em violeta-amarelado e mais uns tons, iluminando um breve espaço dessa varanda fria. A chuva brinca num vai-e-vem teimoso, enquanto uns e outros passam pela rua vazia e escura. Sem postes, sem lamparinas ou luz qualquer. Como vagalumes cegos tentando achar a rua de casa.
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sábado, 8 de janeiro de 2011





Completamente escuro e sem graça

Volto ao meu refúgio particular

Depois de, em vão, tentar puxar acordes em meu violão empoeirado

No esconderijo de minhas palavras encontro minha fortaleza

O colo não achado em pessoas alheias

E um consolo pro meu desamor opcional

Já é de praxe meu escrito como emplasto, como ópio e como fuga

Me embriago de lápis e papel e sob a chama de uma vela

Me delicio com o prazer da poesia inacabada



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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um amigo mais que camarada =]


Hoje eu lembrei de você como lembro quase todo dia

E mais uma vez assisti ao filme do qual derivou seu apelido

Não é fácil nesse mundo desinteressante encontrar alguém como você

Um coração de ouro, valioso nas melhores qualidades humanas
e nos mais simples detalhes

Sabe aquelas pessoas que trazem instantaneamente o sorriso
e a pureza numa alma encantadora e doce?

Aquelas pessoas a quem queremos bem acima de tudo
e nos fazem melhores pelo simples fato de estarem do nosso lado?

É, você é assim.

Um maluco beleza, a quem guardo com um imenso carinho desde o início,
até o fim e por todo o meio. =]
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