quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

cais

Não sei o que houve entre nós, o contrapeso dos opostos sempre nos caiu muito equilibrado, a leveza sempre se fez presente. Talvez o peso massacrante das responsabilidades me fizeram cegar aos encantos. Talvez o cansaço me consumiu por inteiro e eu não consigo abrir o peito que você fez morada e lar. É como se eu estivesse em um país distante sem falar o idioma. Me sinto errando tanto com você sem saber de onde vem todo esse incômodo, talvez provenha apenas das minhas insatisfações com minha própria vida ou talvez a gente só não seja mais tudo que sempre fomos. Me dói esperar o que você não pode, ou talvez apenas não queira, dar. Também me dói reconhecer que talvez eu sempre espere o que sei que não é de sua natureza. Seria o amor por si só suficiente? Você sempre tenta me fazer enxergar que sim enquanto meus calos estão acostumados a só continuar caminhando deixando pra traz as pedras. Talvez a gente seja o maior exercício de resiliência pelo qual eu já passei. Isso soa um pouco ruim, pra você soaria como uma faca perfurando o coração. Pra mim é algo crucial, considerando que a vida me fez caminhar deixando pra trás tudo que não me cabia. Você sempre dá um jeito de ocupar todos os espaços, ainda que se esvaia, que quase fique por um fio, você tem esse dom de despertar um amor novo que se mistura com o velho e vira um amor ainda maior a cada segundo. E eu me pergunto novamente, é o bastante? A resposta vem ao fechar os olhos, com tudo que me atinge e consome quando penso em você. Só espero que você saiba que os meus navios também já foram queimados. 

É estranho chegar a esse ponto em que você não se reconhece, pois não tem tempo de se sentir, se observar e se reconhecer nessa pessoa que se tornou. Onde foi parar tanta coisa nesses últimos sei lá, 5 anos? Não sei em que parte do processo fui perdendo pedacinhos de mim e entrando nessa de deixa ai ver no que vai dar, talvez tenha sido lá pela milésima surra da vida ou na décima expectativa frustrada, não consigo sequer chegar aquele ponto de notar todas as transformações, pois as coisas apenas foram acontecendo, fui seguindo o fluxo e parei no meio de uma nuvem cinzenta que não sabe se vai chover ou se dissipará com o calor do sol. Como um pássaro preso na gaiola que não reconhece mais o caminho da saída mesmo quando as portas passam o dia inteiro abertas. Seria eu mais um Ícaro que voou tão perto do sol que se queimou? A vontade é de sumir pra um canto ermo e só existir no espaço tempo, longe de tudo, todos e qualquer lapso de pensamento que insista em martelar a mente. Tantos gritos engolidos, tantas lágrimas silenciosas, onde ei de acordar? Escrevo hoje após tanto tempo, será que há o que recuperar?

 Crescer é um processo doloroso e solitário, acredito que já tenha discorrido sobre isso, mas sigo reforçando na prática essa constatação. Tantas mudanças, tantas conquistas e o peso de no fundo no fundo me sentir só é avassalador. É uma sensação que carrego comigo desde que me recordo de refletir sobre essas coisas e se torna inevitável a busca de pertencimento, embora constantemente me pergunte a que preço? Gostaria de ter todas aquelas certezas que sempre tive sobre onde exatamente eu quero estar/chegar, mas me perdi nas inseguranças e na voz que sempre diz que não fiz nada mais do que minha obrigação. As vezes acho que preciso de um sacode outras acolhimento, outra só o privilégio de um colo pra descansar no fim do dia. Mas não foi assim que aprendi a ser. Por circunstancias que a vida me trouxe fui forjada com a essência de quem não espera nem pede. Nasci pra desbravar e conquistar tudo aquilo que por vezes me dizem que é muito alto e preciso voltar pra realidade. Se solidão é o que se paga por não se contentar não se acomodar, pode ficar com o troco que aceito de bom grado quantas doses forem necessárias pra chegar onde quero.