terça-feira, 9 de dezembro de 2014

meu doce novembro

Sempre fui do tipo de pessoa obcecada por ser diferente, por ser única, por não parecer com outras pessoas, pois só queria parecer comigo mesma e com mais ninguém. Sempre me virei sozinha, numa teimosia em ser dona de uma independência que sempre esteve atada pelo cordão umbilical, a qual nunca irá desligar-se por completo. 23 anos completados, não sei dizer se me tornei o que imaginava ou quão próximo da visão que tinha na infância de como seria quando fosse "adulta", se é que eu tinha alguma ideia acerca disso naquela época. Minha vida é cor de rosa com unicórnios e algodão doce, nem tenho um canto pra chamar de meu, e na maioria das vezes me sinto perdendo a vozinha que gritava em meu interior clamando por algo que me diferenciasse dos outros seres do mundo. Acho que nos últimos anos me senti mais comum que tudo. Mediana nas notas, na aparência, nas vontades, no humor. Ainda sinto que tenho uma outra versão de mim que explode por dentro enquanto continuo andando com a cabeça baixa, enquanto continuo sem gostar de chamar atenção, enquanto danço timidamente em todos os outros lugares que não a sala de casa quando está sendo varrida. Mas, acredito que a cada ano volto meu olhar para as coisas preenchedoras de alma, ainda que haja um serzinho consumista soprando nos meus ouvidos a cada nova cor de batom "descoberta". No fim o meu 22° ciclo, percebi-me mais amada, mais plena, mais em paz e mais feliz em todos os meus vários defeitos e insatisfações. Paro pra pensar, e consegui tantas coisas legais, realizei sonhos, aprendi a separar o que vale e o que não vale a pena. Em 23, só tenho a agradecer e a desejar a cada dia dar mais ouvidos àquela vontade que era tão forte e tão constante de não ser igual, não se adequar, não acomodar, não acostumar. E, sobretudo, viver mais e melhor a cada dia.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Seu riso de olhos fechados, sua cara de feliz. Me diz, como poderia freiar esse mundo de sentimentos que esses segundos me trazem? Te vejo assim tão bonito em todos os sentidos, tão cheio de sonhos pra compartilhar, com tanta devoção, carinho, amor. Nossa linha invisível é tão forte, que a lembrança de qualquer coisa que remeta a você já me embriaga, já me faz querer mais e mais a todo instante. Você foi e é cada dia mais a melhor surpresa que a vida, o Universo, Deus e toda natureza me trouxeram em um tempo que tudo me parece tão sem graça e tão previsível. Impossível que eu tivesse imaginado sua vinda, mais impossível ainda que fosse tão ao acaso, tão incomum. E tão feito pra mim. Aprendo tanto, a amar, a ser, a melhorar. Me guarda em teu abraço hoje e todos os dias, amor. Que cuido de seu cansaço, de seus beijos, da gente. Sem grades, como você diz. Porque não precisamos voar quando estamos em paz e em casa. Sua pequena. 
Pra minha calma
Pra minha alma
Pro meu coração
Você, sua cama e nosso amor. 

domingo, 28 de setembro de 2014

bo.ni.ta
sua alma e sua capa
sua cor e o seu corpo
seu sorriso e seu cheiro de flor.
Quero os olhos com que exala paixão
com que despe as roupas
com que cala minha boca
Quero os olhos com que vem o toque
com que sossega minha inquietude
com que me enche de amor
Quero os olhos que são seus 
pra guardar na minha memória
pra me enxergar como você me vê
pra sentir essa paz que eles trazem.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Como eu poderia não lembrar o teu sorriso, se no meio de tanta gente você me fez parar e guardar na memória aqueles minutos? E me fez querer de novo, mesmo estando longe da realidade dos dias, mesmo tendo sido só mais um. E me fez lembrar seu nome, eu que não me lembro nem do que fiz um segundo atrás. Como poderia não gelar dos pés a cabeça ao ver de novo aquele sorriso quando nem esperava, nem lembrava de relembrar, nem imaginava que você também lembraria depois de quase um mês? E me fez mais uma vez querer de novo, eu que quase nunca guardo nada, nem nomes, nem sorrisos, nem beijos. Eu que nem sabia que era possível ter a sensação de borboletas flutuando no estômago só por conta de umas palavras trocadas. Como eu poderia não me surpreender com a vida, se você foi a melhor surpresa que já tive e que me trouxe uma paz que até então nunca tinha sentido? Se em tão pouco tempo você roubou todos os meus olhares, sorrisos e vontades e me fez querer mais, muito mais, um querer infinito, que mesmo tendo a todo tempo ainda consegue aumentar? Se é só te ver que não quero mais largar, nem por um segundo, nem por um piscar de olhos. Se eu não consigo nem me sabotar, nem pensar, nem fazer qualquer coisa além de retribuir o bem que você me faz. Como eu poderia não me apaixonar por você se não sei nem quando começou ou quando foi crescendo? Se me arrepia só de lembrar de você, da gente, dos nossos momentos. E me faz, todos os dias, sentir mais. Querer mais. Apaixonar mais. E me inspirar a escrever sobre o que sinto, sem personagens, sem nada além de puro sentimento e palavras. Como eu poderia não querer você? Se a gente não sabe mais ficar sem a gente? Se só fecho os olhos e vejo você, sem vontade de olhar pros lados, eu que nunca consegui prender a atenção em pessoa nenhuma, que sempre preferi meus livros, minhas músicas, meus textos. Eu que achei que nunca me sentiria assim, tão leve, tão feliz. Como eu poderia não suspirar o tempo inteiro? Se já acordo esperando o seu bom dia, se durmo contando o tempo pra te ver e te ter de novo, pra te beijar de novo, pra desligar do mundo com você. Como eu poderia por um fim ao texto se esse querer é insaciável? Se essa sensação não acaba? Se esse arrepio não para de percorrer meu corpo? Se ainda virão mais linhas e mais sentimentos e mais sensações?
Se eu dormisse e em um sonho me aparecesse o futuro tal qual será, sem que fosse possível qualquer interferência, isso acalmaria o meu temor? Acabariam as dúvidas que martelam em minha cabeça por todo o tempo livre? E se não viesse (como não virá), durante o sono, mas concedido fosse um único desejo, o que escolheria? Qual vontade eu mataria? Qual caminho iria encurtar com a realização de um querer? Quantas chances, vidas e destinos eu mudaria? Qual aprendizado eu deixaria para trás pegando um atalho? Como apontar pra o foco e desfocar toda distração? Como rasgar em pedacinhos toda essa incerteza, todas essas perguntas que me faço por segundo? Como calar a minha própria voz de cobrança, minha insegurança que insiste em soprar aos meus ouvidos que não sou capaz. Onde eu me desligo do mundo? Onde eu me desligo de mim? Adiantaria prever ou pelo menos me ver lá na frente em um lugar que nem sei se gostarei de estar? Como responder a qualquer coisa se as perguntas parecem não ter respostas? :/

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Quando saberá, em algum acaso. Tampouco espera, aceita 
O dia chega, o ócio.
O corpo descansa, a mente não
Pede alma
Clama o novo
Em rodeios reclama e pede desculpas
Ao sol, à flor, aos céus 
Respira o mundo pelas imagens, quer inalar pelo viver, não mais pela tela
Se cansa, acomoda, cansa de novo
Bebe das madrugadas solidão 
Aguarda a semente que não brota
Insiste no que deve largar
Nada faz sentido
Se esgota e aguarda o sono.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

"Here comes the sun".

Gostaria, de todo o meu coração poder derramar mil lágrimas neste instante, sobre esse texto e sobre os objetos tão impessoais que compõem a minha mesa de trabalho. E, pelo menos por hoje, entender toda essa confusão de vontades que parecem conduzir à uma nova velha história que me coloco estupidamente. Poderia gritar, quem sabe? Mas de que adiantaria? Não há a quem culpar, e nesses momentos o peso recai todo sobre os meus próprios ombros. E nem minhas musicas terapias parecem funcionar neste momento. Alcançar um sonho e fechar um ciclo não deveriam ser tão dolorosos. Ou pelo menos não deveria ser tão difícil rasgar as velhas roupas que não mais servem. É tão contraditório pra quem ama mudanças ter medo de uma reviravolta. Medo de começar do zero, sem nem saber por onde começar. Medo de acomodar, medo de não ter mais aquele abraço que em breve estará a um oceano de distância, medo de cumprir com o que prometeu a si mesma. Não, não quero uma luz, um consolo, um sinal divino. Dessa vez, apenas minhas lágrimas ou meu grito seriam capaz de me acordar para a vida que eu quis e alcancei. Mas eles não vêm. Nunca fui de chorar e não será agora que irei desaguar, nem sou louca pra sair gritando por ai no meio da rua, ate porque o grito sempre é mais legal quando se está no meio do nada ou pelo menos é o que parece. A vida chama e embora soubesse que um dia ela chamaria, não estou pronta para atender ao chamado, mas, não há como olhar para trás, nem como ficar parado. Só há um caminho e um horizonte para se fixar. 


Esquece o medo e voa. 




*

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Mais uma vez a maldita tpm ataca e com ela todo o sentimentalismo, carência e mimimis que empurro a cada segundo pro fundo mais fundo do meu cérebro. Quanto tempo mais vai se passar nessa falta de uma mão pra segurar e sentir que sim, vai ficar tudo bem e se não ficar você tem a quem recorrer? Um colo pra descansar o cansaço de dias corridos e estressantes ou pelo menos uma palavra otimista quando as forças se esgotam. Nesses dias, todas as minhas barreiras se desmancham feito água e toda o meu gelo se derrete tal qual fosse jogado em um deserto quente. Levo, todos os dias, todos os meus pensamentos e foco em quem quero ser, em quem vou ser. Porque sei que serei e só preciso de mim mesma. Afinal de contas, é toda uma vida levada em meus próprios pés e ombros. Sem apoios além da minha fé em Deus e no amor que carrego em cada célula do meu corpo. Não canso de preencher a alma enxergando tudo de bonito dessa vida, sentindo o mundo em minha liberdade, conquistando e tendo orgulho em trilhar sozinha cada degrau. Mas chega, sempre, uma vez no mês, essa nostalgia. Essa falta, esse vazio. Os questionamentos de sempre, o achar que não merece ou que tem algo errado, os mil defeitos enxergados no espelho. Pra relembrar dos tantos desacertos, desencontros, daquilo que não foi. Pra me enlouquecer de pensamentos e paixonites passageiras, pra aumentar o meu medo de sentir e perder a independência que tanto penei a ter. E passa. Tão rápido quanto chega. E os muros voltam, as armas são postas em jogo junto com as mil armadilhas. E o pensamento de sempre de que nunca vou entender, até que um dia simplesmente alguém diga: vai ficar tudo bem. E não precisarei mais desses dias, nem de muros. Só de fechar os olhos e sentir.

sábado, 3 de maio de 2014

retroagir

Tenho saudades do tempo em que passava o dia construindo a casa e a vida de minhas bonecas, em que felizes eram os dias de calor em que bexigas cheias de água eram atiradas umas nas outras, onde saber das coisas era vital para não tomar torta na cara e a agilidade vinha em forma de conseguir pegar a bandeirinha sem que o time adversário visse. Saudades de quando bom mesmo era ir aos domingos pra fazenda catar cajá e acerola do pé e saia correndo feito louca morrendo de medo depois de atentar as vacas e as galinhas. Saudades de quando o quintal da vizinha era uma floresta e um mundo inteiro cabia numa tarde de fazer fogueirinhas e cozinhar coisas em copos de alumínio. Do mesmo tempo em que gibis e revistas faziam com que tudo ao meu redor se apagasse a tal ponto de não ouvir ninguém me chamando ou me dando mais uma bronca por não prestar atenção em mais nada. De quando adultos eram apenas adultos, crianças eram apenas crianças e respeito era o que a gente devia ter com os mais velhos e com os outros. De quando ter ou não alguma coisa não importava, pois sempre haviam pratinhos e copos que viravam mesas, cds que viravam paredes, toalhinhas que viravam camas e tudo mais quanto fosse objetos que poderiam virar móveis e o que mais a imaginação mandasse. De quando subir em árvores, muros, descer ladeiras de patins e cair mil vezes de bicicleta eram atividades desempenhadas sem medo de acabar com vários cortes e feridas. De quando padrões de comportamento, beleza ou corpo não eram sequer avaliados ou pensados e a única coisa com a qual me importava era a hora que passaria o meu desenho preferido. Mas saudade maior mesmo eu tenho de não enxergar quão vazias, ruins ou mesquinhas podem ser as pessoas. Do não julgamento que há na infância, derivado da pureza de coração e de alma que se mantém até que sejamos contaminados com o abrir dos olhos pro mundo. E com os olhos abertos, a gente vê o medo, os padrões, o egoísmo, o circo e reino animal disfarçado em ser pensante. A gente acorda e de repente precisa se enquadrar, se adaptar, sobreviver e viver uma luta por dia em busca de uma felicidade que é ter, ser melhor, maior, mais forte, mais rico, mais bonito, mais dentro do padrão, até que os olhos voltem novamente a se fechar, dessa vez, pela morte. Fecha-se então o ciclo. Ou não. Pra toda imposição, há a revolta, pra todo padrão a fuga, e, então, pros olhos abertos, os sonhos e não mais saudade. E então, ao ver naqueles que não se entregam, não se conformam e não se deixam adaptar, sinto menos falta do que fui e mais vontade de dias de sol e tarde quentes felizes ou não, mas sempre sem ser formiga, sem ser só mais um ser submetido a uma forma, sem que seja necessário absorver todo o egoísmo, a maldade, a lei da selva que nos é jogada cotidianamente. Sigo com saudade, mas além disso, com desejo de viver como criança, sem medo, sem filtros e sem julgamentos.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Eu não consegui parar de olhar pra você, mesmo não podendo, mesmo sabendo que era errado. Não tive como evitar, desviar ou sair de onde eu estava, não quis deixar pra lá. Não pude negar que algo em mim me puxava pra você, pra torcer que fosse recíproco, pra trocar uma mínima palavra que fosse. Desesperadamente quis sua atenção, que olhasse para mim e como num filme roubasse todo aquele momento pra você. Que todas as pessoas ao nosso redor se tornassem borrões e que as musicas virassem nossas músicas e aquele momento o nosso momento. Mas não houve atenção, não houveram palavras, não houve filme. As cores ainda percorriam o lugar, e a música percorria minhas veias. Mas não havia nós. Havia você. Eu. Todas as outras pessoas. E um momento que não volta mais.
Por quanto tempo mais terei que matar o seu fantasma? Ou serão os meus fantasmas? Quantas voltas e quantas mudanças pra sempre parar nesse ciclo vicioso iniciado por aquele maldito tropeço! Nem eu aguento mais falar, lembrar, querer, odiar, e qualquer outro maldito verbo relacionado a você. Não aguento essas lembranças que surgem quando consigo ficar em paz, não suporto quando você resolve ligar do nada após vários meses como se nada tivesse acontecido e dizendo que sente saudades de uma amizade que nem existe mais. Não entendo que droga de vontade é essa que não acaba, que se esconde quieta e em uma madrugada qualquer volta querendo ouvir sua voz. É possível que essas perguntas nunca acabem? Como as dúvidas ainda permanecessem, mesmo que não havendo mais o desejo ou o gostar. Como Penélope a tecer um sudário que nunca ficará pronto, como linhas paralelas que até se encontrarem no infinito permanecerão apenas olhando uma para a outra. Quantas vezes te ressuscitarei ou deixarei que você me deixe louca desse jeito mais uma vez? Já ultrapassa os limites da minha própria lógica não saber ser eu quando se trata de você. Não posso trancar você em algum canto, atear fogo e simplesmente jogar a chave fora?! 
Esperar o tempo que vem fazer chover, fazer o cheiro da terra arder nas narinas anunciando a vontade de nem sair da cama. Esperar o tempo de relembrar você, o desamor, as brigas intermináveis, a ilusão de que um pouco de calma e comodidade apagariam aquela chama que se escondia por trás de cada gesto meu. Aquelas faíscas insistentes que pra mim traziam dúvida, pra ele trazia satisfação e pra você todo o seu lado explosivo, vulnerável e doentio. Não sei porque sobre você nada de muito bom resta pra lembrar ou esquecer, acho que até a indiferença cede lugar ao branco por esses tempos. Nem um vazio, nem um sinal de que quase três anos foram compartilhados ao seu lado, nem uma mágoa, arrependimento, cheiro, gosto. Um urso de pelúcia que carece de sentimento, fotos que se perderam nesse passado tão distante, aquele 7 de janeiro que nem recordo mais se realmente foi 7 ou outro dia qualquer. Nunca quis o seu mal, nunca quis que você derramasse tantas lágrimas no fim ou tanto amor por tanto tempo depois. Nunca quis nada além do que você me privava por todos os instantes. Nunca pedi que seu mundo fosse criado em função do meu. Esperar esse tempo em que vou lembrar de você com saudosismo é como esperar que não hajam chuvas nessa época do ano, como tentar florescer um amor que nunca nem existiu, como transformar em realidade o torpor que transferia minha culpa em uma espécie de cuidado, o qual te dava tentando não sentir por ele o que nunca senti por você. 


Me desculpe por ser dura, áspera, por não conseguir guardar nada de ruim e nada de bom. Me desculpe por nunca me desculpar, por deixar você acreditar que te amei, por só ter me dado conta disso tudo após anos. Me desculpe por ter sentido por ele o que deveria ter sentido por você. Me desculpe por me sentir bem em saber que você nunca saberá dessas linhas, que ele nunca saberá dessas linhas, por eu nunca me arrepender de nada disso. Me desculpe, do fundo do coração, por não sentir nem um pingo de culpa por nada disso.

domingo, 9 de março de 2014

E no mar que se fez derramado em mim, naveguei no cheiro, beijo e toque, preenchida de todos os sentidos ativados em poucos segundos, tão inesperados quanto bem-vindos. No mais a prova, nada e tudo em troca, sem pretensão se consuma surpresa, e da surpresa o sorriso, do sorriso mais vontade, da vontade o arrepio da lembrança, e da lembrança o gosto guardado, a palavra ao pé do ouvido, o pescoço com o beijo e o cheiro, e os olhos cor de terra fixados no verde dos teus olhos de mar.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Eu não sei o que acontece, nem o que ao certo sinto
Nesse ritmo acelerado que passou a seguir meu coração
De tanto acaso, um rumo incerto
E me ponho a caminhar de olhos vendados,
a me guiar por arrepio, instinto e sentimento
Como se meu destino pertencesse a você.
Sem que seja necessário um começo,
uma lógica, uma explicação cabível ao nosso encontro
Só agradeço, sem tentar compreender, pensar ou questionar
Sem fugir ou me esconder, sem escudos
Sorrio, e te sinto
Te ouço, e sou suspiros
Te tenho, e quero ser flores
Você chegou, e sou só paz

sábado, 18 de janeiro de 2014

Pra onde eu mando embora esse medo de não conseguir?
Essa angústia de achar que não dou conta
Esses dias que passam correndo levando todo meu tempo embora
A ansiedade que quer explodir dentro do meu peito
A dúvida da capacidade, do conhecimento, da sorte que vai sair correndo
Onde que eu deposito esse desespero antecipado?
Esse tanto de questionamentos, de folhas rabiscadas, de café forte engolido as pressas?
Essa vontade de largar tudo, a culpa pela indisciplina, o pensamento negativo
O desanimo, a preguiça, o estresse dos dias que se acumulam?
Pra onde eu mando o fantasma do fracasso?
O cansaço, a agonia, os olhos que insistem em ceder ao sono
Onde eu consigo de volta a fé em mim?
Acendendo uma vela e fazendo uma prece? 
Com choro? Com mais vontade? Com sexo?
Com mais perguntas?


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Certeza, nenhuma
Tempo, um tanto
Um pouco de descanso, um monte de sorrisos
O novo e o talvez
O avesso, o toque, a versão estendida
A crença no acaso
O ponto de partida e de saída
A desculpa trocada pelo beijo
A espera após a despedida
A sorte lançada sobre nós.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

(...)

Tenho medo do controle que me foge ao falar com você. De não saber ao certo o que se passa por trás de cada sílaba, palavra e frase que você diz. Como se você criptografasse cada pensamento só pra me confundir, pra que eu não saiba como agir e quebre cada uma das leis a qual me imponho quando se trata de qualquer coisa que ultrapasse o degrau da amizade na minha escala de relacionamentos interpessoais. Não sei se o que me prende tanto a você é achar, sem ter o mínimo plausível de evidência concreta, uma semelhança de meu próprio modo de agir e de pensar, ou a vontade de ultrapassar todos os muros em que você se esconde, que se ergueram para mim desde a primeira vez que te vi. Como se eu devesse provar pra mim mesma e principalmente pra você que posso ganhar o jogo que você me impõe sem arma alguma além de minha sinceridade. Mesmo sabendo que todos os meus limites seriam postos a prova ao ponto de eu ter que admitir uma empatia que surgiu em outro tempo e ficou escondida esperando que algum dia fosse recíproca. Mesmo sabendo que eu teimaria em fazer exatamente o oposto do que me é natural, dando a cara a tapa sem saber se vale a pena o esforço ou as linhas escritas. Expondo a parte mais escondida de mim, a que tanto guardo como proteção e refúgio, na tentativa de arrancar ao menos um sorriso. Joguei fora o último escudo, lançando à sorte o que vier, em troca da boa companhia a qual entrego minhas horas, minhas letras e meu pensamento.
Quão patético pode ser estar sozinho num ponto de ônibus tão tarde em pleno sábado a noite? Sem nenhum amigo pra conversar, sem nenhuma garota para dividir a cama, sem nenhuma festa pra ir. Era o que Mauro se perguntava a todo instante, enquanto a droga do ônibus já estava meia hora atrasado. Estava voltando da casa dos pais, como se fizesse alguma diferença morar sozinho e continuar indo lá todos os dias. 28 anos nas costas e ainda não havia concluído nenhum curso universitário, e olha que já estava no 3°. O que poderia piorar? Seu estágio era insignificante e só servia para pagar o aluguel, a mesada continuava a ser dada pelos pais, seus colegas eram muito mais jovens e muito mais inteligentes. Mauro não era nem o pior, nem o melhor filho, aluno ou amigo. Era normal, mediano, quase que apático. E pouco se importava com isso. Seguia sua rotina, seu próprio relógio, e ia levando. Estava ouvindo uma música qualquer que andava tocando direto na tv, olhando o celular sem nenhuma mensagem ou ligação perdida e reclamando sozinho do atraso de mais de 45 minutos do ônibus. Já pensava em voltar pra casa dos pais quando o ônibus finalmente chegou. Foi dormindo e acordou com o barulho de sirenes, uma luz forte e várias vozes. Adormeceu novamente e quando acordou seus pais estavam na beira da cama. De um hospital. Tinha passado 10 dias em coma. O ônibus bateu de frente de um caminhão e somente ele tinha sobrevivido. Um milagre. Era o que estampavam as capas dos jornais. Um renascimento, uma nova vida. Deu algumas entrevistas, as pessoas o cumprimentavam como um herói nas ruas, uma mistura de alegria com piedade. Ganhou um bom dinheiro do seguro, arranjou uma namorada e um punhado de amigos.

5 anos depois. 33 anos nas costas. Mauro ainda não havia concluído nenhum curso universitário e havia voltado para a casa dos pais. Havia ido depois do acidente e não saiu mais. Seus pais estavam aposentados e viajavam praticamente todo mês. Não tinha mais namorada. Seus amigos eram apenas 3 do punhado que tinha, e iam toda sexta feira pro carteado na casa de Mauro. O dinheiro do seguro acabou em 6 meses. Arranjou um emprego meia boca. Ganhava um salário mínimo e mais um pouco que conseguia roubar da aposentadoria dos pais. Sábado a noite. Nenhuma festa pra ir, nenhuma garota para dividir a cama, seus 3 amigos estavam com a esposa e os filhos. Quão patético pode ser uma vida insignificante? O suficiente para tentar tirar a vida com umas bolinhas de chumbinho.

1 semana depois. Mauro continuava agonizando na cama do hospital. Já havia perdido o fígado e um dos rins. Não falava, o chumbinho havia corroído sua garganta e todo o aparelho digestivo. Não conseguia respirar. Morreu num dia qualquer. Numa tarde nem quente, nem fria. Em seu enterro contavam-se no máximo 20 pessoas. Seus pais estavam conformados. Choraram por um mês e depois resolveram ir visitar uma parente no Rio de Janeiro. Acabaram ficando por lá. 

2 anos depois. Ninguém se lembrava mais de quem havia sido Mauro. Ninguém sequer compareceu à missa de aniversário de sua morte. Ninguém sequer parou pra pensar onde ele estaria àquela hora. Até que um jornalista que o havia entrevistado no hospital após o acidente resolveu pesquisar sobre por onde ele andaria. Descobriu que Mauro havia se matado. Conseguiu uma matéria de capa. Culpou a empresa de ônibus, arranjou testemunhas que diziam que Mauro entrou em uma profunda depressão após o acidente. Apareceram algumas pessoas dizendo ter estudado com ele. Falaram que era uma pessoa tão inteligente que havia passado por 3 cursos universitários e não havia concluído porque não eram suficientes para o seu grande intelecto. Ah, sua ex namorada passou na tv, chorando pela morte de Mauro, inconformada com o rumo que ele tomou após o acidente. Seus pais foram rechaçados por não terem notado os sérios problemas psicológicos que o filho passava. Um colega que dividiu o apartamento com ele disse que Mauro havia voltado para a casa dos pais por não suportar a própria solidão. Uma nova legislação foi criada, objetivando obrigar as empresas de ônibus a fornecerem tratamento psicológico às vítimas em caso de acidente. As pessoas clamaram por justiça em frente à sede da empresa. O nome de Mauro foi aclamado por um mês inteiro, e o jornalista recebeu um prêmio por seu grande trabalho de resgate à memória de um grande herói. E o herói, por fim, teve uma lápide nova fixada em seu túmulo com os dizeres: "Uma morte honrosa à quem a vida foi tão injusta". Centenas de pessoas aplaudiram de pé, levando flores e entoando canções. Ah, agora sim fizemos justiça! Suspirou uma delas.