quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Tenho me maltratado demais sem saber muito o porquê, odiando a imagem que eu vejo no espelho e reduzindo o tanto que sou a isso. Uma imagem. Um corpo. Um exterior que apenas é o que te carrega aos lugares. Nunca fui muito de me enxergar de uma maneira positiva ou demonstrar qualidades, cuidados e carinhos, mas ao longo de vinte e oito anos o processo de aceitação avançou bastante e passei a ser mais gentil com tudo que me tornei e venho me tornando. mas é difícil. Acaba sendo um ciclo vicioso e qualquer mínima faísca de insegurança é capaz de romper com tudo que demorou a ser construído. Mas por que? Até quando? Quantos e quantos anos e livros e estudos levarão até que eu pare de me sentir assim quando eu sei dentro de mim que tudo isso é superficial, estúpido e uma ponta minúscula perante tudo que sou e sinto? Me dói também passar por isso sabendo causas, históricos e lutas femininas e feministas. Por que a gente foca tanto na parte de fora quando é a de dentro que merece palco?
Mais um ano começou e já está sendo um pouco atípico pra mim. Sem metas, sem listas, sem muitos objetivos, como quem viaja quietinho só caminhando sem ter um destino final. Estaria eu desiludida ou apenas deixando que a vida faça o seu curso sem interferências ou tentativas de manter algum controle. Teria aprendido a viver longe do guidom? Ao certo, acabo sem saber de muita coisa. Respirando um minutinho de cada vez com baixíssimas perspectivas.  Fazendo minha parte de um jeito mais leve e sem refletir muito sobre isso embora escrever já seja um pouco de reflexão. Será que é fruto da idade? A gente vai perdendo a animação dessa coisa de ter um ano inteirinho novo pra fazer o que quiser e deixar o anterior no passado como quem pega uma roupa que não cabe, separa pra doação e abre espaço pra uma nova no guarda-roupa. Seria o fato da vida ter sido muito generosa comigo me dando poucas preocupações de modo geral, ainda que o status concurseira perdure até perder de vista com seu pacote inseguranças e dramas. Talvez em algum momento eu sente e escreva no meu caderninho aquelas coisas de vou ler um livro por mês, vou juntar dinheiro, manter uma dieta, me alimentar melhor etc etc etc. Coisas que basicamente toda pessoa adulta deveria fazer em sua vida e que viram metas de ano novo pela simples ilusão que a mudança do dia 31 para 01 mude também todos os velhos hábitos de muito tempo. E é isso, trezentos e alguns dias pra ver no que vai dar.