terça-feira, 10 de maio de 2011

brasa e carne-viva



Já não gastaria lápis, letra e papel se a certeza viesse para selar esse amor ao qual me fui submetida por tropeço do destino. Dos clichês tantos, fui fadada ao mais redundante, doloroso e complicado de todos. Ao tanto que já me dei conta inúmeras vezes que não cabe mais fantasiá-lo em minha mente, posto que apenas posso deixá-lo no plano platônico e irreal. Já não me cabe depois de tantos desencontros acreditar em enredo de novela, mas ao mesmo tempo já não cabe sentir desse tamanho tanto o que carrego dentro do peito. Cem tempos, sonetos, anos de solidão. Mergulhei em meus mais profundos mares e afundei nas fontes das poesias e livros a fim de tirar-te de mim. Mas como dor crônica e aguda, você vem a badaladas me lembrar do sentimento que o seu ser me traz. Não há nenhum pranto, nenhum sentido e nenhuma boca que contenha a vontade de enlaçar-me em teu corpo feito ímã. Não há abismo em que eu caia pra tentar sair depois. É um círculo vicioso, como praga que corrói até exaurir-se toda carne. E desse modo, te amo sabendo que queimo a cada dia nesse fogo que não se findará até que em brasa e carne viva esteja, arruinado, meu coração.

segunda-feira, 9 de maio de 2011



Garganta arranha. Tenta engolir, não consegue. Não cospe, não desce, não deglute. Embola, entala, breca os movimentos peristálticos. Incomoda, machuca, mas deixa. Não desfaz o nó e ele fica ali. Preso, inerte, fixo. E o choro não vem, a cabeça doi, o cansaço se aloja. E acostuma com ele, esperando um marinheiro que desate, uma água que dissolva ou uma explosão que varra pra dentro - ou pra fora, o fio emaranhado de sentimentalismo, descrença e desilusão. 

sexta-feira, 6 de maio de 2011



Gosto do seu desconcerto quando me olha,
a fixação em desviar o foco e fingir que não está vendo
Gosto da sua timidez escancarada ao ter que me dizer alguma palavra, 
e o modo como te intimido, levando a dúvida quanto a intenção
Gosto de ser o prêmio no final do labirinto em que você se perde,
e deixa confundir os atalhos, embaralhando o caminho mais ainda
Gosto do seu gosto, e mais ainda do amargo que te faço sentir
a toda vem que, em vão, você tenta me desfrutar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

combustão



De tanto atrito fez-se faísca, e então do caos da oposição nasceu desejo entre os corpos. Fagulha intensa, chama gelada, despertando o coração,apagando amor antigo, criando paixão. Tórrida, de azucrinar juízo, proibida em suas convenções, controversa em suas complicações. Daquele jeito imã. Foi consumida, não consumada, restando quase vela toda e pavio pouco queimado. Foi apagado pela boa mocice dela, foi amordaçado pela canalhice dele. Mas ainda vive. No magnetismo deles dois ao se encostarem, a espera de um acidente no percurso, um combustível, que reacenda a chama e a faça arder até secar toda vontade e toda parafina.