sexta-feira, 28 de março de 2014

Eu não consegui parar de olhar pra você, mesmo não podendo, mesmo sabendo que era errado. Não tive como evitar, desviar ou sair de onde eu estava, não quis deixar pra lá. Não pude negar que algo em mim me puxava pra você, pra torcer que fosse recíproco, pra trocar uma mínima palavra que fosse. Desesperadamente quis sua atenção, que olhasse para mim e como num filme roubasse todo aquele momento pra você. Que todas as pessoas ao nosso redor se tornassem borrões e que as musicas virassem nossas músicas e aquele momento o nosso momento. Mas não houve atenção, não houveram palavras, não houve filme. As cores ainda percorriam o lugar, e a música percorria minhas veias. Mas não havia nós. Havia você. Eu. Todas as outras pessoas. E um momento que não volta mais.
Por quanto tempo mais terei que matar o seu fantasma? Ou serão os meus fantasmas? Quantas voltas e quantas mudanças pra sempre parar nesse ciclo vicioso iniciado por aquele maldito tropeço! Nem eu aguento mais falar, lembrar, querer, odiar, e qualquer outro maldito verbo relacionado a você. Não aguento essas lembranças que surgem quando consigo ficar em paz, não suporto quando você resolve ligar do nada após vários meses como se nada tivesse acontecido e dizendo que sente saudades de uma amizade que nem existe mais. Não entendo que droga de vontade é essa que não acaba, que se esconde quieta e em uma madrugada qualquer volta querendo ouvir sua voz. É possível que essas perguntas nunca acabem? Como as dúvidas ainda permanecessem, mesmo que não havendo mais o desejo ou o gostar. Como Penélope a tecer um sudário que nunca ficará pronto, como linhas paralelas que até se encontrarem no infinito permanecerão apenas olhando uma para a outra. Quantas vezes te ressuscitarei ou deixarei que você me deixe louca desse jeito mais uma vez? Já ultrapassa os limites da minha própria lógica não saber ser eu quando se trata de você. Não posso trancar você em algum canto, atear fogo e simplesmente jogar a chave fora?! 
Esperar o tempo que vem fazer chover, fazer o cheiro da terra arder nas narinas anunciando a vontade de nem sair da cama. Esperar o tempo de relembrar você, o desamor, as brigas intermináveis, a ilusão de que um pouco de calma e comodidade apagariam aquela chama que se escondia por trás de cada gesto meu. Aquelas faíscas insistentes que pra mim traziam dúvida, pra ele trazia satisfação e pra você todo o seu lado explosivo, vulnerável e doentio. Não sei porque sobre você nada de muito bom resta pra lembrar ou esquecer, acho que até a indiferença cede lugar ao branco por esses tempos. Nem um vazio, nem um sinal de que quase três anos foram compartilhados ao seu lado, nem uma mágoa, arrependimento, cheiro, gosto. Um urso de pelúcia que carece de sentimento, fotos que se perderam nesse passado tão distante, aquele 7 de janeiro que nem recordo mais se realmente foi 7 ou outro dia qualquer. Nunca quis o seu mal, nunca quis que você derramasse tantas lágrimas no fim ou tanto amor por tanto tempo depois. Nunca quis nada além do que você me privava por todos os instantes. Nunca pedi que seu mundo fosse criado em função do meu. Esperar esse tempo em que vou lembrar de você com saudosismo é como esperar que não hajam chuvas nessa época do ano, como tentar florescer um amor que nunca nem existiu, como transformar em realidade o torpor que transferia minha culpa em uma espécie de cuidado, o qual te dava tentando não sentir por ele o que nunca senti por você. 


Me desculpe por ser dura, áspera, por não conseguir guardar nada de ruim e nada de bom. Me desculpe por nunca me desculpar, por deixar você acreditar que te amei, por só ter me dado conta disso tudo após anos. Me desculpe por ter sentido por ele o que deveria ter sentido por você. Me desculpe por me sentir bem em saber que você nunca saberá dessas linhas, que ele nunca saberá dessas linhas, por eu nunca me arrepender de nada disso. Me desculpe, do fundo do coração, por não sentir nem um pingo de culpa por nada disso.

domingo, 9 de março de 2014

E no mar que se fez derramado em mim, naveguei no cheiro, beijo e toque, preenchida de todos os sentidos ativados em poucos segundos, tão inesperados quanto bem-vindos. No mais a prova, nada e tudo em troca, sem pretensão se consuma surpresa, e da surpresa o sorriso, do sorriso mais vontade, da vontade o arrepio da lembrança, e da lembrança o gosto guardado, a palavra ao pé do ouvido, o pescoço com o beijo e o cheiro, e os olhos cor de terra fixados no verde dos teus olhos de mar.