quarta-feira, 7 de setembro de 2011

des-aguar



Era margem de que segue o curso certo, de planície, preso em represa, lagoa sem ponte e sem navegação. Sem cachoeira, de nascente descontente, a desaguar em si seus pormenores. Constante, sem afluente, sem aprender a doar suas águas, sem se permitir banhar ou se beber. Água parada a esperar encher, quantidade certa e balanceada, se evaporar e receber. Cinzentas nuvens voltam mais um dia pra cumprimentar, deixar sua parte como de costume, piloto automático de chuva. Vento turbulento, neblina seca, rasgos de folhas e galhos por todo lado. Chuva forte, águas agitadas escapando pelas beiradas, a se perder em curvas desconhecidas, encorpando, braços abertos apagando limites marginais. Sentiu dilatar suas veias, aumentar sua vazão, derrubou cílios e tijolos, chocou em pedras grandes, terras cor grená, perdeu-se por completo. O sol a arrancar-se por espaço, arco-íris e azul do céu. Riu e viu-se monte acima. Não mais planos, não mais plano. Riu e rio viu-se mar. Não lagoa, a léguas das águas antigas. Planalto, queda d'água, queda livre. Fez-se mar. 

Um comentário:

Anônimo disse...

"Vazão" eu lembro da faculdade, "Fez-se mar" de Los Hermanos. E com o ótimo texto vou lembrar da escritora.

;*