quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
O último verso
Engraçado te ler em meus versos e ver com os mesmos olhos uma outra pessoa. Um oposto. Tanto encantamento que me apaixonava de te ler por mim. Ai te vejo, de novo, com os mesmos olhos. Mas não nos versos, na vida. E tudo se desfaz, dissolve igual sal em água, vai tudo embora pelas mãos. E de novo, oposto. Nenhum encantamento. Acho que o bonito vem de dentro. Não te leio mais bonito, há um vazio de beleza em sua alma que não me faz mais sentido.
Queria ter asas. Talvez pra fugir pra algum lugar ermo do Universo, qualquer um desses paraísos intocados pelo homem, ou talvez só pra voar por ai e fugir de mim mesma. Por que em todos os problemas insisto em jogar a culpa em mim? A procurar onde errei ou tentar compreender qual o problema com esse ser que nem sabe entender a própria alma. Que se vê no espelho e consegue ser oposta à tudo e todos os que a enxergam. Não há asas. Há fugas, não tão distantes, não tão eficazes. Alguns paliativos não surtem efeito, e nem ao menos mascaram a dor. Queria ter asas. Talvez para tirar os pés do chão, quando o centro da gravidade os deixa mais que nunca enraizados. Talvez para não ter que se encarar em espelhos, vez que o céu não é dado a reflexos. Querer. Há um tanto de poder e conformismo que andam juntos da vontade. O querer de sonho, que com ação se torna verdade. O querer impossível, e aqui não se limita, nem se cai no clichê de todo impossível o ser até alguém torná-lo possível, que o contentamento é a melhor saída. Queria ter asas. Não posso. Nem Ícaro, nem qualquer outra pessoa ainda as pode ter. Podemos ter aviões, asas-deltas, pára-quedas. Mas asas? Não meu bem, não podemos. Pra onde então devo fugir? Pra dentro? Trancando tudo novamente? Pra fora? Pra onde? Não fugir. Talvez seja o necessário. Talvez as asas venham quando for forte o suficiente para abri-las e suave o suficiente para não deixar que pesem sobre os ombros. Depois então, o vôo vira realização e alma e calma. E não somente fuga.
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