sábado, 19 de agosto de 2023
quarta-feira, 26 de julho de 2023
Na ânsia de alcançar tudo o que projetei, esqueci de me enxergar e sentir as coisas que aconteciam, o tempo que se passava, as pessoas que entravam e saiam da minha vida como quem passa por uma porta giratória de um estabelecimento. É estranho olhar para trás e se sentir adormecida, atônita, parada num tempo psicológico que se desenrolava entre as minhas tantas crises de ansiedade. De tanto pensar no futuro, vivendo em um constante estado de alerta em que eu precisava cumprir tudo o que impus como metas, me achando fraca demais nos dias em que o cansaço se alastrava e eu só sentia sono. E foi tanto cansaço que eu quase não sobrevivi a rigidez das minhas culpas acumuladas e minhas verdades imutáveis. Senti meu corpo e minha mente definhando, perdendo tudo aquilo que eu sempre fiz de olhos fechados, por me recusar a respeitar os meus limites e as minhas limitações. Deixei escapar cada uma das saídas em uma autossabotagem sem fim, girando em círculos e caminhando sem perceber que isso me afundava no abismo de certezas, medos e lágrimas. Fiz questão de fechar as armaduras, transparecendo apenas um reflexo do que eu realmente sentia, equilibrando tudo como se atuasse em um espetáculo em que sorrir e permanecer polida é essencial. Sempre me disseram que eu parecia um robô e aos poucos fui tentando me tornar um, pra não sentir o gosto das derrotas, pra não sofrer, pra não desistir, pra não dizer o que tanto doía. Anos de silêncios e independências que nos fazem esquecer que falar não é fraqueza. Cansar não é errado. Descansar não é pecado. Ta tudo bem em não estar bem, em perder o controle, em deixar que tudo se exploda, esquecer a perfeição, desconstruir tudo que você criou pra se esconder da vida, tudo que te disseram pra seguir e ser. É necessário entender os processos pra continuar a andar, enxergar quem está ao lado, rir das desgraças, chorar até dormir, se refazer quantas vezes for necessário. A vida é mais do que as quatro paredes brancas do quarto em que derramo os dias do calendário.