quarta-feira, 17 de agosto de 2011

duo



Planta teu olhar em mim, pra ver se um dia brota nesse solo pobre qualquer broto verde, qualquer fruto doce. Nutre de emoção meu ser, pra ver se a gente alinha igual planeta, igual zodíaco e paraíso astral. Joga seus mares em mim e bebe toda água em cada curva feita de concha, mergulhando em cada pedaço de pele que me cobrir. Toca cada acorde e som, encanta com seu tato e sua voz a me cantar. Me veste, me despe, me tome pra si e se entregue em mim para que caiba em nós dois metamorfoseados em um. Me embale em sono e sonho, com seu sorriso bobo a arrancar suspiro, adormeça nesses olhos tontos embriagados de você. Deixa seu perfume no meu travesseiro, que te guardo em devaneio, em delírio, em amor e a cada dia novo logo de manhã, planta teu olhar em mim e faz primavera todo meu ser.

  

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

o homem do lado de fora.



Vendo a vida pela janela do lado de fora, olhando pra dentro, vendo gente entrar e sair da sala, pensando o que estaria escrito naqueles quadros negros de cor branca, manchados de azul de piloto mal apagado. Do seu lado não enquadrado, verde mato, cheiro de terra, de trabalho, solitário, vagando na amanhecência enquanto por ele passam mais uns sem enxergá-lo, ele quase como uma sombra, como se não existisse. Descendo as escadas cinzas, cabeça em nuvens, sol a pino, pausa pro almoço. Meio dia, mais da metade ainda a passar, suor escorrendo, mãos calejadas, unhas sujas de terra. Canto de pássaros a procura de abrigo, sol baixando após tarde lenta, céu lilás alaranjado, estrelas querendo despontar fagulhas, lua crescendo, crescente, anuviada. Estrada, pés apertados no sapato, corpo tombando de cansaço, beijo de chegada, sono turbulento de poucas horas. Café, leite e pão de sal, beijo de despedida, mais um dia de sustento, abre as janelas, parte com o vento, o sol ainda sem acordar, pé na estrada, homem se vai, a ver a vida emoldurada entre as janelas alheias, do lado de fora, do lado de dentro de si. 


#