Você tem medo de quê? Qual o peso que você carrega nesses ombros fortes? Qual a dor por trás desses olhos de menino que tem sede do mundo e ao mesmo tempo insiste em resistir ao que a vida joga em seus braços? Eu costumo sentir as pessoas e ler os seus olhares, e imaginar o infinito que corre por trás de todos aqueles desenhos, íris e pupilas adentro. Os seus são castanhos, tais como os meus. Não escuros, nem totalmente claros, mas aqueles castanhos misteriosos, que entendo bem, e são os que mais me intrigam. Eles possuem um tanto de caos por trás da aparente calmaria do sorriso, e costumam causar um tipo de arrepio que não percorre a pele, mas a alma. São muitas as pessoas que despertam a minha empatia, mas raras as pessoas que me encantam. Você, definitivamente conseguiu ser uma dessas poucas, quase nenhumas. Eu acredito em acaso. Acredito que o Universo conspira, que existem ligações além da esfera material, que existem coincidências e, mais ainda, que existe uma razão para tudo. Você, parece ser um sonhador de pés no chão. Um poeta (e para mim música é uma das mais belas formas de poesia, pois consegue tocar todos os sentidos do ser) que consegue transmitir os sentimentos mais bonitos e mais puros, e, ao mesmo tempo cobrir todos eles de ceticismo. Das pessoas que me despertaram encanto, não me recordo de nenhum que não tenha sido um dos meus amores platônicos. Sempre gostei desse tipo de sentimento. Sempre tive medo de sentir, de ser, de enxergar minha própria alma, não sei se por não reconhecê-la, ou por ser insegura demais para aceitá-la; e, não há nada melhor do que a segurança de sentir pelo puro prazer de gostar, sem nem cogitar nada em troca, pois, apenas um olhar retribuído já trazia um mundo de possibilidade e, assim, perdia a graça e a liberdade do sentir só. Acho que demorei um bom tempo para transmutar esse amor platônico em amor próprio, que, acaba por ser o mesmo amor, dessa vez direcionado para o próprio ser. Amar, sem nada em troca; se amar, pelo puro gosto do amor e pela felicidade de sentir e se ver plena. Por uma vez consegui reunir o amor recíproco com plenitude, compartilhar o sentimento e as consequências advindas dele, e, por um tempo achei que esse era o amor em sua completude. Vem o acaso - e este não cansa de me pregar peças, e me traz você e todo o encanto que você proporcionou. E, eu que não sei quase nada de amores, mais uma vez me dei conta de que ainda não sei nada do amor. Não há amor pleno sem encanto. Sem preencher todos os espaços do seu ser, sem extrapolar todos os limites do imaginável. Não, não faço ideia de onde tudo isso vai dar, até onde a vida vai soprar ventos aos navegantes. Tampouco sinto qualquer forma de amor ou paixão ou alguma derivação desses sentimentos. Na verdade, também não sei nada disso. Eu sinto o seus olhos, a sua hesitação, o seu ceticismo. Eu vejo coincidências tantas que não parecem somente acaso. Eu ouço o arrepio da minha alma ao ouvir você cantar. E não, não venha me dizer que isso é exagero. Há momentos da vida que carecem de razão. E, agora, não quero entender, nem buscar uma explicação para nada disso, e pouco me importa se você não se importar. Não nos conhecemos, mas, não há como não reconhecer que nada disso é mera coincidência.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Eu não sei mais brincar de não sentir. Eu sempre soube, mas acho que quando te vi passar por mim naquela noite, tudo desandou em emoções. Não se se foi o seu sorriso, ou os seus olhos pequenos, suas frases bem pensadas ou as suas graças que me faziam rir a todo instante. Naqueles dias, naqueles meses, todos os tijolos foram caindo, toda a doçura florescendo novamente naquele caminho cansado que eu percorria até de olhos fechados. E suspiros de realidade preenchidos de amor diário, com toda chama dos dois corpos queimando juntos numa mesma temperatura. Um monte de sabores, de jeitos, de gênios, de cumplicidade. Não haviam sinais, não houve pontos de onde a água pudesse ir se acumulando até quebrar as barreiras da represa. Houve fraqueza. E romperam-se os laços, explodiram-se as encostas, e não restou mais água alguma. E todas as flores continuaram bonitas pelo caminho, e eu, que sempre tive controle de tudo, senti o peso de todo o sentimento reaprendido, de todo o campo novamente aberto, de mais um lado do amor -ou do que até então conheço dele. Não, não te culpo, nem poderia. De almas pequenas apenas podemos deixar o que elas querem que fiquem. E levamos o tanto que se pode aprender. Aprendi, a sentir novamente. A florescer novamente. A entender que a paz vem de si, assim como a grandeza. Não me culpo, nem nunca poderei culpar-me por ser forte. Por acreditar no que trago na alma, por não acomodar, não saber fingir, não conseguir fincar os pés no chão. Tenho asas. E sentirei todo o peso por carregá-las, assim como toda leveza de ser tudo aquilo que eu quiser por meu próprio esforço.
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- Toda cicatriz tem um pouco de beleza em seus contornos. É o novo tecido que vem mostrando a capacidade de reerguer do trauma, mas continuando ali para que nunca se esqueça do que a causou.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
De coincidência em coincidência, vem o destino de novo me pegar pelo pé. Ou pelo coração?! Talvez os dois. Tanto encanto, tanta pergunta, um tempo contado em segundos voadores. Posso te roubar pra mim? Pergunta a pessoa que não conseguiu ainda apertar o botão da realidade, tampouco curar a cicatriz de um amor que deixou tudo por dentro doído. A vida é generosa comigo. Penso, sorrindo e lembrando das pintinhas em forma de constelação em seu rosto. Esperando o encontro para acariciar cada uma delas, para olhar de novo pros seus olhos castanhos e doces. Que seja o que vier, o que for pra ser. Hoje, quero você e o mundo de possibilidades infinitas pra esse tanto de querer.
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