Vendo a vida pela janela do lado de fora, olhando pra dentro, vendo gente entrar e sair da sala, pensando o que estaria escrito naqueles quadros negros de cor branca, manchados de azul de piloto mal apagado. Do seu lado não enquadrado, verde mato, cheiro de terra, de trabalho, solitário, vagando na amanhecência enquanto por ele passam mais uns sem enxergá-lo, ele quase como uma sombra, como se não existisse. Descendo as escadas cinzas, cabeça em nuvens, sol a pino, pausa pro almoço. Meio dia, mais da metade ainda a passar, suor escorrendo, mãos calejadas, unhas sujas de terra. Canto de pássaros a procura de abrigo, sol baixando após tarde lenta, céu lilás alaranjado, estrelas querendo despontar fagulhas, lua crescendo, crescente, anuviada. Estrada, pés apertados no sapato, corpo tombando de cansaço, beijo de chegada, sono turbulento de poucas horas. Café, leite e pão de sal, beijo de despedida, mais um dia de sustento, abre as janelas, parte com o vento, o sol ainda sem acordar, pé na estrada, homem se vai, a ver a vida emoldurada entre as janelas alheias, do lado de fora, do lado de dentro de si.
#
3 comentários:
A gente percebe que alguém tem dom pra escrever quando sentimos as palavras. Eu me senti como o trabalhador, o "o homem do lado de fora" em todos os momentos do seu dia, foi bonito.
Muito bom o texto. Realmente muito bom! Dá uma passada no www.musicalsalad.blogspot.com
^^
Postar um comentário