terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

-


Deve existir um ponto da vida em que a gente olha pra trás e pensa no que poderia ter acontecido se a gente tivesse escolhido de forma diferente, se tivesse largado tudo, se mudasse aquilo que incomodava alguns meses antes. Deve existir a idade que a gente entra em crise e não sabe se foi para o bem ou para o mal tudo aquilo que fizemos. Deve existir uma fase de porquês, igual aquela que a gente tem com 5, 6 anos e quer saber o porquê de tudo, o porque que a coisa é assim, e o assim porque é desse jeito e não de outro. Deve existir aquele momento em que a gente procura nas lembranças quando deixou de ser o que era, o que levou o coração a ficar apertado, que evidência e que gesto fizeram gostar ou desgostar daquela pessoa. Deve existir aquela semana em que a gente lembra de uma pessoa e percebe que ela não faz mais parte de sua vida, embora você tente de tudo para fazer retornar os bons e velhos tempos. Deve existir alguma forma de sanar toda a loucura a qual a gente fica submerso em dias tão loucos que contando parece mais loucura ainda. Deve existir alguma fórmula pra suportar a rotina quando ela se torna insuportável demais pra ser vivida. Deve existir um placebo que engane todo o sentimento ruim e toda angústia, aquelas doses de bons momentos e boas sacadas que fazem a gente esquecer tudo que atormentava. Deve existir alguma mágica divina, que faz a gente se sentir acolhida igual conchinha, que faz a gente acordar com um sorriso no rosto e mesmo nos dias de mais cansaço e mais desânimo conseguir ter força. Deve existir alguma lógica em toda espera, em toda demora, em todos os caminhos considerados errados, em toda estrada certa que não conduziu a lugar algum. Deve existir algum ou alguns lugares pra pertencer, alguma vocação pra seguir, alguma paixão pra ser descoberta, alguma coisa dentro da gente pra aflorar e servir pra alguma coisa. Deve existir, e de algum modo clamo todos os dias para que exista. Para que em cada desencaixe alguma coisa possa encaixar, para que se possa expulsar e dar-se conta do que já não mais faz parte de si, para que em momentos, meses, anos, fases, a gente possa crer que exista alguma coisa que nos faça crer em nós mesmos. Alguma coisa lá dentro da gente, que faz enfrentar tudo, que faz ter medo, que faz esse medo servir pra sentir que estamos vivos, pra que essa vida possa ser questionada a todo tempo. Deve existir motivos e porquês, que ainda que possam não ser nunca respondidos, ainda que tragam discórdia, ainda que sirvam pra que a gente duvide de tudo, fazem com que se tenha motivos e porquês para viver. A vida deve ser mesmo uma grande viagem, e como tal, as vezes a gente precisa parar pra reabastecer o carro, pra respirar ar puro, pra apreciar a paisagem. A gente pode até pedir carona pra chegar a algum destino, ou seguir sem rumo por um tempo, ou comprar um mapa, se perder em algum canto, pegar um barco ou um avião. Mas é certo que a gente sempre chega em algum lugar, e errado ou não, deve existir um lugar e um cais, uma companhia de viagem, uma cidade pequena, uma rodovia esburacada, uma curva mais torta, um canto pra cada um de nós. Todos sob o mesmo céu

Um comentário:

Paula Carine disse...

Muito lindo Jeh! e tomará que haja mesmo tudo isso! Viver humanamente cada dia é muito doido, essa é a verdade, e saber que mesmo errando o caminho, estamos todos procurando a mesma coisa, FELICIDADE, me anima a pensar, mesmo que loucamente, que sempre dá tempo de mudar os rumos durante esses questionamentos que só surgem no momento certo: quando estamos preparados para as respostas, mesmo que não pareça!
Mas, enfim!, adorei o texto! =]