sábado, 24 de março de 2012

nós

Em seu travesseiro espalham-se os cheiros, os gostos, desejos e meus cabelos molhados após uma jornada extensa de trabalho seguida de um banho quente de quase meia hora. Você ainda vai ficar doente, é o que você me diz em vão, sabendo da minha teimosia embaraçada com minha falta de tempo pra lavar em outra hora, ou tempo desorganizado, como minha mãe dizia até uns 2 anos atras, antes de eu arrumar esse emprego meio chato que eu tanto adoro, e não só por causa do dinheiro no final do mês com que eu pude finalmente ter um canto meu. Acho que me encontrei pelo menos em uma coisa nessa minha vida cheia de indecisões e determinação impulsiva e instintiva. Ultimamente você anda meio distante, meio assim, sei lá, você reclama enquanto eu brinco e afago sua cabeça, antes das minhas dancinhas bizarras que tanto te irritam e que eu faço pra te pirraçar porque amo as suas birras e os seus biquinhos e suas covinhas aparecendo quando ri e me imita e me joga na cama depois. Acho que nem pensava em algo assim, essas coisinhas de casal tão clichês e tão bobas que a gente só entende quando ta com alguém e que eu tanto achava um grude e mimimi demais pra o meu gosto. 2 anos e eu que duvidei que ia gostar assim de alguém e muito menos dividir as contas, o apê e a vida. Ah, você é tão bonito, mesmo quando não me deixa dormir pra jogar videogame de madrugada, me deixando ganhar quando começo a dar piti e a ficar emburrada. Você é tão incrível, com seus malabarismos na cozinha, sempre derrubando as laranjas no próprio pé e conseguindo queimar até miojo. Você é tão bom pra mim, com seu cheiro de sempre, daquele perfume que sempre esqueço o nome e que persegue o meu olfato em todo canto e até em todo sonho, tão bom com o seu gosto de chiclete de menta e os seus desejos loucos de sorvete de manhã cedo, de atentar os vizinhos com rock no volume máximo até eles virem reclamar e você fingir que nada ta acontecendo, com os seus vamos para tal lugar assim meio do nada. Você é tão meu, beijando minha testa ao sair de casa, sempre atrasado e esquecendo as chaves, colocando aquele disco velho de jazz e me puxando pra você, rindo da minha dança esquisita e desengonçada e reclamando de meu cabelo molhado pingando e me dizendo que eu vou ficar doente e me levando chá de manhã cedo porque eu tô meio febril e você me avisou, mas eu sempre sou teimosa e eu sei disso, mas você sabe que eu nunca escuto e sempre faço o mesmo, acho que só pra te fazer cuidar de mim e me abraçar e dizer que me ama e eu também te amo, e fica aqui mais um pouquinho comigo pra eu sentir seu cheiro, seu gosto e os seus, os meus, os nossos desejos. 

Um comentário:

heldersilva disse...

Aconchegante é a palavra que eu uso pra definir esse texto. Achei alguém tão apaixonado pelo cotidiano quanto eu.

;*