Pra onde eu mando embora esse medo de não conseguir?
Essa angústia de achar que não dou conta
Esses dias que passam correndo levando todo meu tempo embora
A ansiedade que quer explodir dentro do meu peito
A dúvida da capacidade, do conhecimento, da sorte que vai sair correndo
Onde que eu deposito esse desespero antecipado?
Esse tanto de questionamentos, de folhas rabiscadas, de café forte engolido as pressas?
Essa vontade de largar tudo, a culpa pela indisciplina, o pensamento negativo
O desanimo, a preguiça, o estresse dos dias que se acumulam?
Pra onde eu mando o fantasma do fracasso?
O cansaço, a agonia, os olhos que insistem em ceder ao sono
Onde eu consigo de volta a fé em mim?
Acendendo uma vela e fazendo uma prece?
Com choro? Com mais vontade? Com sexo?
Com mais perguntas?
sábado, 18 de janeiro de 2014
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
(...)
Tenho medo do controle que me foge ao falar com você. De não saber ao certo o que se passa por trás de cada sílaba, palavra e frase que você diz. Como se você criptografasse cada pensamento só pra me confundir, pra que eu não saiba como agir e quebre cada uma das leis a qual me imponho quando se trata de qualquer coisa que ultrapasse o degrau da amizade na minha escala de relacionamentos interpessoais. Não sei se o que me prende tanto a você é achar, sem ter o mínimo plausível de evidência concreta, uma semelhança de meu próprio modo de agir e de pensar, ou a vontade de ultrapassar todos os muros em que você se esconde, que se ergueram para mim desde a primeira vez que te vi. Como se eu devesse provar pra mim mesma e principalmente pra você que posso ganhar o jogo que você me impõe sem arma alguma além de minha sinceridade. Mesmo sabendo que todos os meus limites seriam postos a prova ao ponto de eu ter que admitir uma empatia que surgiu em outro tempo e ficou escondida esperando que algum dia fosse recíproca. Mesmo sabendo que eu teimaria em fazer exatamente o oposto do que me é natural, dando a cara a tapa sem saber se vale a pena o esforço ou as linhas escritas. Expondo a parte mais escondida de mim, a que tanto guardo como proteção e refúgio, na tentativa de arrancar ao menos um sorriso. Joguei fora o último escudo, lançando à sorte o que vier, em troca da boa companhia a qual entrego minhas horas, minhas letras e meu pensamento.
Quão patético pode ser estar sozinho num ponto de ônibus tão tarde em pleno sábado a noite? Sem nenhum amigo pra conversar, sem nenhuma garota para dividir a cama, sem nenhuma festa pra ir. Era o que Mauro se perguntava a todo instante, enquanto a droga do ônibus já estava meia hora atrasado. Estava voltando da casa dos pais, como se fizesse alguma diferença morar sozinho e continuar indo lá todos os dias. 28 anos nas costas e ainda não havia concluído nenhum curso universitário, e olha que já estava no 3°. O que poderia piorar? Seu estágio era insignificante e só servia para pagar o aluguel, a mesada continuava a ser dada pelos pais, seus colegas eram muito mais jovens e muito mais inteligentes. Mauro não era nem o pior, nem o melhor filho, aluno ou amigo. Era normal, mediano, quase que apático. E pouco se importava com isso. Seguia sua rotina, seu próprio relógio, e ia levando. Estava ouvindo uma música qualquer que andava tocando direto na tv, olhando o celular sem nenhuma mensagem ou ligação perdida e reclamando sozinho do atraso de mais de 45 minutos do ônibus. Já pensava em voltar pra casa dos pais quando o ônibus finalmente chegou. Foi dormindo e acordou com o barulho de sirenes, uma luz forte e várias vozes. Adormeceu novamente e quando acordou seus pais estavam na beira da cama. De um hospital. Tinha passado 10 dias em coma. O ônibus bateu de frente de um caminhão e somente ele tinha sobrevivido. Um milagre. Era o que estampavam as capas dos jornais. Um renascimento, uma nova vida. Deu algumas entrevistas, as pessoas o cumprimentavam como um herói nas ruas, uma mistura de alegria com piedade. Ganhou um bom dinheiro do seguro, arranjou uma namorada e um punhado de amigos.
5 anos depois. 33 anos nas costas. Mauro ainda não havia concluído nenhum curso universitário e havia voltado para a casa dos pais. Havia ido depois do acidente e não saiu mais. Seus pais estavam aposentados e viajavam praticamente todo mês. Não tinha mais namorada. Seus amigos eram apenas 3 do punhado que tinha, e iam toda sexta feira pro carteado na casa de Mauro. O dinheiro do seguro acabou em 6 meses. Arranjou um emprego meia boca. Ganhava um salário mínimo e mais um pouco que conseguia roubar da aposentadoria dos pais. Sábado a noite. Nenhuma festa pra ir, nenhuma garota para dividir a cama, seus 3 amigos estavam com a esposa e os filhos. Quão patético pode ser uma vida insignificante? O suficiente para tentar tirar a vida com umas bolinhas de chumbinho.
1 semana depois. Mauro continuava agonizando na cama do hospital. Já havia perdido o fígado e um dos rins. Não falava, o chumbinho havia corroído sua garganta e todo o aparelho digestivo. Não conseguia respirar. Morreu num dia qualquer. Numa tarde nem quente, nem fria. Em seu enterro contavam-se no máximo 20 pessoas. Seus pais estavam conformados. Choraram por um mês e depois resolveram ir visitar uma parente no Rio de Janeiro. Acabaram ficando por lá.
2 anos depois. Ninguém se lembrava mais de quem havia sido Mauro. Ninguém sequer compareceu à missa de aniversário de sua morte. Ninguém sequer parou pra pensar onde ele estaria àquela hora. Até que um jornalista que o havia entrevistado no hospital após o acidente resolveu pesquisar sobre por onde ele andaria. Descobriu que Mauro havia se matado. Conseguiu uma matéria de capa. Culpou a empresa de ônibus, arranjou testemunhas que diziam que Mauro entrou em uma profunda depressão após o acidente. Apareceram algumas pessoas dizendo ter estudado com ele. Falaram que era uma pessoa tão inteligente que havia passado por 3 cursos universitários e não havia concluído porque não eram suficientes para o seu grande intelecto. Ah, sua ex namorada passou na tv, chorando pela morte de Mauro, inconformada com o rumo que ele tomou após o acidente. Seus pais foram rechaçados por não terem notado os sérios problemas psicológicos que o filho passava. Um colega que dividiu o apartamento com ele disse que Mauro havia voltado para a casa dos pais por não suportar a própria solidão. Uma nova legislação foi criada, objetivando obrigar as empresas de ônibus a fornecerem tratamento psicológico às vítimas em caso de acidente. As pessoas clamaram por justiça em frente à sede da empresa. O nome de Mauro foi aclamado por um mês inteiro, e o jornalista recebeu um prêmio por seu grande trabalho de resgate à memória de um grande herói. E o herói, por fim, teve uma lápide nova fixada em seu túmulo com os dizeres: "Uma morte honrosa à quem a vida foi tão injusta". Centenas de pessoas aplaudiram de pé, levando flores e entoando canções. Ah, agora sim fizemos justiça! Suspirou uma delas.
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