terça-feira, 12 de maio de 2015

Ouço pela milésima vez aquele velho disco que você nunca me deu, pensando em tudo o que não fomos, em todas aquelas músicas que não escutamos, em todos os filmes que não poderíamos assistir juntos sem que você dormisse ou me fizesse desistir de assistir. Penso e tento lembrar de todas as conversas que eu sinceramente gostaria que tivéssemos tido, em tudo que eu poderia ter te ensinado sobre alguma banda de rock clássica, ou sei lá, algum personagem interessante da história. Sobre eu me orgulhar de ter nascido em 18 Brumário, o dia do golpe de Napoleão, mesmo sabendo que eles não utilizavam o calendário gregoriano dos dias de hoje, e que essa data é bem possivelmente outra data, mas Brumário era Novembro e 18 o meu dia. Ou melhor, o nosso dia. Que acabou sendo só meu, como sempre. Escuto minha banda favorita e me lembro que você não sabe e nem se interessaria em saber nada sobre ela, além das músicas que todo mundo conhece, afinal de contas, Beatles é Beatles. Aliás, acho que nenhuma das minhas bandas favoritas por sinal. E isso até que é bom, porque eu nunca guardaria nenhuma delas pra você, nunca poderia ter uma música sequer de Chico, ou do Led, ou de qualquer uma das minhas bandas pra lembrar de você. Acho que nem o fato de você usar uma blusa de Led quando terminei com você me faria associar a você, até porque, eu só conseguia me perguntar que diabos você fazia com uma camisa do Led?! Eu achava tanto que a gente combinava, que a gente era tipo feito um pro outro, mas acho que quando gosta a gente fica meio cego, maquiando os indícios, ou sei lá, enxergando só a parte boa. Eu penso tanto nisso, acho que mais até do que seria razoável, com um certo tanto de maldade por sempre pensar no quanto você era fraco, no quanto faltava algo. Mas é inevitável. Te ver na mesma vida, do mesmo jeito, sem nada a acrescentar, sem nada a, sei lá, encantar? Te vejo tão superficial e ao mesmo tempo me vejo de volta aos meus livros, meus filmes, minhas bandas.. a tudo aquilo que me toca, me emociona, me faz ser eu, sabe? Como se você nunca fizesse parte dessa minha parte, e olha que não foi por falta de apresentação. Por falta de tempo, talvez? Nunca saberei, ou nunca saberemos, tanto faz. Mas talvez tenha sido melhor assim. Imagina só se a minha parte mais minha fosse nossa, como eu poderia me desligar de você? Como iria esquecer de lembrar se teria você em tudo que eu tenho como meu, como refúgio, como cura? Acho que foi mais fácil assim, pensar em tudo que você nunca poderia ter sido, em tudo que você não completou, em tudo que você não fez. E eu volto pra mim, pra meus sentimentos tão contraditórios, pra meus amores intangíveis, pro lugar que me sinto tão mais plena. 

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