quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Há de amar apaixonadamente, delirando com o toque suave em sua nuca e o arrepio a lhe percorrer o corpo inteiro.
Há de apaixonar-se cada segundo pelo seu amado respirando do mesmo sopro de ar, matando a sede em corpo e suor e nutrindo-se de beijo e desejo
Há de completar-se na liberdade, prender-se ao nada e somente ser dono do coração e nunca de nada tangível
Há de ter paixão fulminante e amor para manter, desviando do fantasma da rotina e caminhando para qualquer lugar onde se tenham qualquer um, só importando as almas unidas e o calor da vida agraciada
Há de cair em um desmedido vale desconhecido e embrenhar-se em todas as densas florestas úmidas que houverem para provar um gole doce no cálice delicado a se conhecer por nome amor
sem receber nada mais que um risco enorme de se perder e nunca mais conseguir achar-se novamente, mas que há de se querer apostar todos os vinténs.

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Num papal rasgado de caderno todo sentimentalismo barato despejado à lágrimas e tinta preta. Lembranças do que um dia foi amor. Lembranças - e nada mais - esquecidas no fundo do guarda-roupa branco e prontas para serem atiradas no lixo da cozinha.

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

amor de vidro




O vidro quebrou-se e eu não vi os cacos, e nem queria. Me sinto acordada depois de um sono cego e profundo, o qual não me trazia sonhos, e sim contos que não eram reais e que eu sempre soube que não seria. Que alívio. Saber que tudo se foi, que os cacos estão no lixo, que o amor foi-se como chegou, sem perceber. Engraçado, aquele copo de vidro que tanto cuidei, que tanto quis, que tanto guardei, não me fez falta alguma. Agora tenho taças, onde bebo vinho e não coca, onde não preciso lavar com cuidado e com medo de perder. E como o copo, quando parei de pensar, de cuidar, de querer você, o coração parou de saltitar, de apertar de saudade, a boca parou de querer seu beijo, e os vidros do amor partiram. Sem deixar cacos, sem deixar vestígios, sem deixar marca, cortes ou lágrimas.

:)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

redenção

Era um dia chuvoso na primavera de 1756 e Adélia acordou feliz, após ter consumado a primeira noite de amor com seu único e eterno homem, o negro forte e bonito José. Levava uma vida miserável trabalhando incansavelmente na plantação, na casa da sinházinha e na senzala, mas apresentava um sorriso enorme que só sonhadores podem ter. Beirava os 15 - pelo menos é o que lhe diziam os mais velhos - e carregava no peito todo amor que nunca havia recebido até aparecer José, comprado da fazenda vizinha e cobiçado por todas as outras negras. De ancas largas, cabelos pretos cacheados e cheios, formosa na flor da juventude, Adélia parecia imersa em um mundo encantado, imaginado por ela pra esconder toda a realidade degradante que levavam. Trabalhou como nunca, ajudou Ana e Sinhá Vitória a se vestir para ir a missa, aprontou as galinhas para o jantar e limpou as feridas de Damião -açoitado a mando de Coronel Antônio. Mas nem o cansaço lhe tirava a felicidade, aquele era o melhor dia de sua vida, e ah, José agora era seu, só seu, pra sempre! E nada mais lhe importava. Mas veio a noite, veio o chamado da Casa Grande, veio o Coronel Antônio, veio os medos, o animal-homem. Veio o monstro a lhe arrancar a blusa, a invadir seu corpo, a lhe tomar seu sorriso e sua felicidade. Veio o sangue entre as pernas, veio a humilhação. E veio a dor que nunca sentira antes, veio a realidade a rasgar seus sonhos, veio bater a sua cara o fim da fantasia. Estava agora no chão da cozinha, jogada como bicho, emaranhada, soluçando em choro silencioso, oca, sem vida, sozinha. Seu olhar alcançou a faca em cima da mesa, veio a força e veio novamente o sangue. Seu coração rasgado de dor agora rasgava-se de faca. Veio José, delirava Adélia, balbuciava gemidos quase inaudíveis, José gritava, jurava vingança, mas a dor vinha ainda mais. - Eu te amo, eu te amo! foi o que conseguiu dizer e tudo se apagou. Tudo sumiu. E José dizia não me deixe, e eu tambem te amo, e não posso viver sem você, e não era vingança, não era ódio, mas era amor, amor o consumia, e ele arrancou a faca do peito de sua amada e cravou na propria alma, no proprio corpo, em busca de seu amor, em busca de sua mulher. E veio o sangue, um rio de sangue, uma união de sangue. E o sangue dos dois se misturaram, e os corpos mortos abraçados, selados num beijo de morte, jaziam no chão da cozinha, e a primavera se enchia de cores, e veio a chuva e veio o nada, veio o reencontro, veio a redenção. E as almas vagaram juntas rumo ao paraíso, e nada mais importava, e tudo era luz, e tudo era fantasia, e tudo era sonho de Adélia, e tudo era belo e tudo era amor, e delírio. E José era seu, ah, era seu, pra sempre, pra sempre!





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E se era realidade ou delírio não se sabe. Mas se pode escolher acreditar em um dos dois. Então, qual você prefere?

certas indefinições

Um certo medo de mudança, de expulsar o jeito que não lhe cabe, de crescer e agir como a idade que possui. Conflito interno de dois deuses que se degladiam entre infância e juventude, entre menina e mulher, entre se dar valor e ser egoísta. Não sabe ao certo o que é essa angústia que lhe aperta o peito, que lhe traz vontade de chorar por nada e por tudo, e nem tenta descobrir. Não lhe cabe tentar entender sua própria confusão. Procura em palavras alguma forma de prazer que satisfaça o desejo por afago, alimenta a alma como forma de alimentar o coração, e suborna seus sentimentos apaixonando e desapaixonando por ninguem e por todos.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011



Erros podem ser como facas atiradas por aquele cara do circo de olhos vendados
Mesmo quando todo o local onde as facas devem ser fincadas é milimétricamente preciso e treinado nunca se sabe onde elas podem atingir e por isso mesmo, não se sabe o dano que um desvio mínimo na rota pode causar. Pode ser um simples arranhão, um furo na camisa, ou uma marca qualquer na madeira. Mas pode-se atingir um braço, o estômago e até mesmo o coração da ajudante, e as cicatrizes nesse caso irão além de lembranças de um vento que passou ou de uma mão que tremeu.
Há riscos e há escolhas. Até quando achamos que não tivemos como evitar, podíamos sim ter feito algo diferente, e podíamos sim ter deixado marca - e dor - alguma.
É fácil cometer erros, o difícil é ter coragem para consertá-los e admiti-los.
É uma confiança perdida, uma chance passada, um aprendizado transformado.
Não se apaga vida com borracha, não se cura a mágoa que causou a outrem.
Mas o tempo se encarrega, e o caráter molda a atitude que deve ser tomada.
Pedir perdão é simples, e admirar a nobreza do perdão recebido é por si a maior dádiva - ainda que menos nobre do que quem cedeu esse perdão.
Mas assim como a prática aperfeiçoa a técnica de atirar adagas, deve-se treinar a capacidade de escolher e admitir que sim, fui eu quem errei e sofrer a consequência é o mínimo que se pode fazer quando se consegue simultaneamente ferir a dois ajudantes e a si mesmo.



-♥..

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

sobre planetas, cartas e amores




E nessa vida de amores minha órbita colide com seu planeta como em ciclos definidos pelo acasom onde a gente se bate sem compromisso e leva um bem querer de presente. Você é minha carta mais marcada, a posse que não tenho e não quero ter porque a gente é um indefinido que traz paz, que me faz acreditar num propósito de almas viajantes que não são gêmeas, mas aprendizes no amadurecimento nesse tão estranho sentimento que é amor. E esse carinho enorme que sencontro no seu sorriso tento refletir de volta pra você, que sempre esteve aqui, mesmo quando apenas te enxerguei como baralho que se joga vez em quando..
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enquanto

Foi um erro de vontade e zero sentimento que me fez finalmente - e depois de tanto tempo - ver que você era mais importante para mim do que eu imaginava. É seu jeito e seu sorriso e seu nada a ver comigo e sua barba e é você. E eu entendo que não sei se seu gostar ainda existe e se tenho algum merecimento e se quero futuro e se vai ter futuro, mas é você e isso é tudo que resta na certeza incerta e é o que basta enquanto meu coração acelerar ao te ver, enquanto for agora, enquanto tiver que ser.
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assimetria

Minha retidão convencionada ou não prefere linhas curvas à perpendiculares e assim me perco nos atalhos espinhosos desse desgastado gosto pelo imprestável.




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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011



Uma maçã mordida e se pode ver a alma emoldurada em seu olhar de poeta
São traços, são formas e lápis desgastado transfigurados em acordes como música soprando aos ouvidos palavras doces
Mas não são palavras, não são sentidos do vento ao ouvido atento ou despretensioso
É a visão aguçada com o subjetivo, com o belo não mostrado, escondido em uma assinatura
É a poesia feita pra se ver, arte concreta no que não se pode traduzir ou entender
É a vida captada no detalhe não percebido ou desprezado nas vãs filosofias baratas
São maçãs e gatos e coringas e traços, que se confundem no poeta que não conheci, na pessoa que não sei quem é, mas que pressinto sentir a alma no olhar e admiro pelo deixado num papel soprado pelo vento e apurado pela pupila que tenta traduzir em palavras o mesmo mundo que convertes em figura.




ps: a imagem que me inspirou é de um amigo de Tekinha, minha jardineira, amiga e colega de poesia e de vida, colocarei os devidos créditos assim que ele autorizar o uso dessa imagem - e espero que o faça, rsrs =]

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011




Me atirei ao mar, onde ondas espumam ao sabor do vento
numa mistura de branco com areia e azul do céu
naquela imensisão senti o gosto salgado da água gelada a me descer pela garganta
E meus pés dançarem livres sem tocar o solo
Era um misto de desespero e liberdade
Flutuar na imensidão do oceano misterioso a desvendar cada parte do meu corpo
Submersa, a luz do sol ia ficando distante, e a turva visão era completada com o fechar dos olhos
Mas não sentia medo, sentia a paz que não encontrava em terra firme
E ia, bailando, sorrindo, poetisando no mar oceano e se despedindo do mar da vida...
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