Ou monólogos de eu para eu, tanto faz. Não sei bem como começou, se foi num dia chuvoso sem fazer nada, se foi no dia da festinha de 12 anos da Aninha, se foi com aquele convite pro cinema ou se foi na festinha da escola. Acho que devo ter me sentido mais ou menos como os índios quando ganharam espelhos pela primeira vez e a partir daí meio que passaram a se enxergar de forma diferente. Quando a gente começa a incorporar todas aquelas belezas de revista, de querer ser paquita, chiquititas ou aquela mocinha bonita da novela das 7, a gente começa a se olhar diferente em frente ao espelho, e passa a não se ver, mas a ver a projeção de uma ideologia cruel e imperativa, na qual nos enquadramos (e nesse caso, que sorte, ufa!) ou não. E o problema começa quando a gente não cabe naquela fantasia, naquela imposição, naquele padrão. E a gente se olha cada vez mais no espelho. E olha aquela espinha, aquele nariz desajeitado, aquele cabelo cheio ou ralo demais que nunca fica bom, aquele bad hair day eterno, aquela maquiagem super cara que não disfarça mancha nenhuma. E lá se vão mesadas e mais mesadas, salários e mais salários pra ajeitar tudo.. e achar mais um defeito que vai custar mais litros de auto estima e mais salários, mesadas e afins. Bem, o problema então é esse consumismo, e o capitalismo, e essa mídia louca, e as barbies, e os contos de fada, e a Disney, e as gerações passadas, e as futuras, e os EUA... e ad infinitum. Não. O problema não é só esse. Não é se olhar e estar insatisfeita com algo, e querer mudar um pedacinho ali,perder o pneuzinho da barriga, comprar 50 esmaltes diferentes, comprar 500 vestidos. O problema é quase como iceberg, muito, muito mais complicado, grande e gélido. Ele começa como me perguntei lá no início do texto, de algum 'dia mais importante da minha vida', de um oi do carinha gatinho, de um convite qualquer. Ele começa assim, despercebido, quando a gente para pra pensar no que vai vestir, no que vai falar, no que vai fazer no cabelo.. E vai tomando forma, se alimentando daquele friozinho na barriga, daquela ansiedade, daquela ex namorada linda, daquele ciúmes bobo. E quando a gente vê, ta lá, provando todas as roupas do guarda-roupa, pensando no que fulano vai pensar, no que sicrana vai vestir... Ta lá em frente ao espelho por horas e mais horas, se achando seca, gorda, feiosa, louca, esquisita. Revestindo de novo aquelas roupas que já conhece de cor, combinando as peças trocentas vezes, se entupindo de maquiagem. E lá em frente ao espelho:
- Isso ainda não está bom. Não que eu ainda goste dele, claro que não. Já faz tanto tempo né? Ele já está em outra, ta tão feliz. Ai. Quero tanto o bem dele, quero tanto ver ele feliz.. E finalmente vou conhecer aquela menina né? Como será que ela é? Não consegui fuçar direito todas as fotos, mas acho que ela é assim meio fresquinha. Acho que vou com esse vestido.. Mas ele ta tão sem gracinha né? Não que eu me importe, mas também não vou aparecer que nem uma louca né? Tenho que ir bonita, vou colocar aquela calça que me deixa com mais coxa. Mas também não dá pra ir feito uma piriguete né? Ela é super ciumenta. Mas quer saber, não to nem ai, ela que cuide do que é dela, eu nem gosto mais dele mesmo. E se ela é insegura problema dela. Ai, vou com aquela blusa nova! Linda demais, Tudo bem que deveria guardar pra sair pra algum lugar mais chique né? Mas não posso sair com eles assim, meio desesperada, e essa destaca mais a minha cintura que ele gostava tanto. Ai meu Deus. Será que eu ainda gosto dele, acho que não né? É vou assim mesmo, vou matar neguinho do coração. (Orgulho!)
3 horas depois.
- Aquele idiota ridículo nem me olhou, eu sabia que ele estaria diferente, eu sabia. Claro ela é muito mais alta do que eu pensei e muito mais magra também. É chata como eu esperava, como ele pode ter me trocado por aquela menina? Mas ela é lindona né? Se eu não tivesse essas espinhas, se eu tivesse malhado mais pesado. Ah, com certeza aquela menina ia ver o dela, se ia! Mas também, o que eu pensei, que com esse nariz de batatinha e esse cabelo cor de nada, claro que isso iria acontecer. Eu sou uma ridícula por ter pensado que tudo ia dar certo, minha vida é uma droga. Tudo sempre dá errado pra mim, minha sina é essa. (Travesseiro e choros eternos)
O problema torna-se realmente um problema, quando a gente para de ver o espelho como um objeto e passa a ver como a "opinião" mais importante de todas, como aquela superfície na qual está todo o seu sucesso, todo o seu charme, todas as suas armas. Aquela imagem refletida no espelho não é nem metade do que realmente importa, do que realmente tem-se para refletir. A imagem no espelho é mero acessório. O espelho apenas mostra uma imagem que nem é real, Fisicamente falando, de você. O que a gente enxerga nesse espelho, ai sim, é a opinião mais dura, mais gelada, mais icebergzada do problema, e não é a opinião do espelho e sim a sua própria opinião. O que a gente imprime na gente, o que a gente dialoga monologamente com a gente. O que a gente vê no espelho é a crítica mais severa que a gente vai receber, o pensamento mais idiota e o menos próximo da verdade. Não que a gente não possa trocar de roupa mil vezes em frente ao espelho, não que a gente não deva conversar com o espelho (psicólogos super indicam), não que a gente não deva querer se sentir linda e poderosa, mas a gente deve e tem obrigação de pegar mais leve com a gente. De se olhar e dizer: sou linda por ser eu. De colocar a confiança lá nas alturas (com moderação, claro, my dear) e não estar nem ai. Porque no final das contas, você realmente nem gostava mais dele. :)
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Não era bem esse sentido que queria dar pro texto, mas as palavras vão tomando forma sozinhas, e enfim, não sei ainda se fui com a cara dele, mas vai ver é tudo questão de olhá-lo de outro jeito ^^
2 comentários:
A note de roda pé foi o toque final. ;)
Nossa, voce escreve muiito bem!! Tô ti seguindo!!!!!!
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