Dizem que samba bom se faz com tristeza e amor. E um pouco de drama. Acho então que a gente daria um samba meia-boca. Daqueles chicletinhos, cheios de clichê. Daqueles de amor que passa. Pra ser samba bom tem que ser amor de verdade. Amor de grandes histórias, de arrancar o juízo, a cabeça, a roupa. Amor daqueles de se jogar de pontagulha, de alma, corpo e todos os elementos. Você nunca foi capaz de pular do seu pedestal, de largar seu medo estúpido, de ser homem e tomar uma decisão. De jogar na minha cara a verdade, de ir e não olhar pra trás. Você sempre voltou que nem um cachorrinho pra mim. Sempre ia e voltava tantas vezes que não deixava que a gente vivesse qualquer coisa que pudesse existir. Você acendia todas as fagulhas e jogava água morna em todas elas. A gente podia ser um samba meia-boca, mas samba meia boca se faz com um punhado de paixão e desilusão ou declaração de amor. Mas nem isso a gente pode ser. Você nunca abriu a boca pra dizer uma vírgula de sinceridade, nem aquela alimentada por alguma bebida quente. Claro. Você era bom demais em seu mundo para esboçar qualquer reação. Você precisava de uma platéia para seu ego se mostrar e assim seguia na dúvida eterna de brincar de vai-e-vem. A gente não dá nem um samba ruim de uma frase só. Para isso alguma peça de roupa deveria ser arrancada ou ao menos uma traição anunciada. A gente definitivamente não daria samba algum. Talvez porque eu sempre joguei toda a culpa em você. Talvez por eu nunca ter enxergado as mentiras e verdades que você dizia para me proteger e não me magoar. Talvez porque foi melhor assim e nós dois tínhamos medo. Ou talvez eu devesse tentar compor mesmo assim. Algum verso de drama, pelo menos. Algum verso pra contar o que um dia foi uma tentativa de amor.
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