Os cabelos dela cintilavam ao vento, que tecia cada mecha em quase cachos, embaraços e ondulações, dando a Melissa uma aparência selvagem e estranhamente bela. Sempre descalça, em sua bicicleta vermelha, ela adentrava o bosque e cada vez mais fundo em meu coração. Havia nela uma beleza ingênua que sumia assim que sorria. Seu sorriso era malícia pura, como de quem sabe o poder que tem, e isso ela realmente tinha de sobra. Melissa é o tipo de garota que você não esquece quando vê, seja por seus cheios e longos cabelos castanhos, pelos olhos ferozes ou simplesmente pela mágica que exala, como se o Universo parasse a cada vez que ela saia de casa. O sol sempre parecia luzir mais forte, as flores coloriam-se para que ela apanhasse uma delas e prendesse no cabelo e até os dias mais cinzentos pareciam palco para que os vestidos rodados e a velha bota marrom fossem as estrelas. Ah, Melissa, não sabes que o mundo parava quando resolvia trocar duas palavras comigo? Quando dançava de olhos fechados na varanda de casa, quando no fim da tarde pulava no rio e saia encharcada com os gritos de sua mãe? Após trinta dias de sonhos e suspiros de melissas e por Melissa, consegui enfim arrancar um beijo, que marcou toda minha infância, e ainda perturba vez em quando minha mente o sorriso sacana de Melissa andando de bicicleta, nas tardes do verão de 86.
PS: Aquele foi e será um dos melhores verões de minha vida, no sítio dos meus avós em Sapoti. Quanto a Melissa, se mudou e em 87 senti o vazio de minha primeira desilusão amorosa. A partir dai, minhas férias de verão nunca mais foram tão coloridas. Não sei para onde foi e nunca mais tive notícias dela. Ah, o amor e seus desencontros.
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