sábado, 11 de fevereiro de 2017

Eu me lembro daquela tarde em que você carinhosamente embolava seus dedos em meu cabelo encaracolado, bagunçando os meus poucos cachos enquanto eu quase-que-cochilava, sem saber se ainda prestava atenção naquele silencio ou se sonhava. Eu me lembro que era muito boa aquela sensação de ter a vida toda e ao mesmo tempo ter aquele momento em que tudo parava. A gente costumava ficar bastante tempo e bastantes tardes assim, revezando as loucuras dos nossos dias com o frescor da cumplicidade dos nossos afagos. Nossa respiração até se misturava de tão sincronizada e nossos cheiros tornavam-se um só. Eu me lembro de começar a rir por nada, o que te deixava um pouco irritado por não entender nada, o que me fazia achar mais graça e não conseguir parar de rir, e acabava que você ria também e a gente virava dois idiotas rindo por nada. A gente costumava se entender sem nem dizer, tinha um sexto sentido tão forte que não precisava nem de telefone, e-mail ou recado, sempre um vinha bater na porta com o outro já saindo pra ir ver/contar/desabar. Eu me lembro como se fosse agora daquela tarde de janeiro em que você se foi. Eu nem pude me despedir ou ir ao seu encontro. Eu só me lembro de sentir uma dor muito forte e as lagrimas já começaram a cair antes mesmo de saber. Eu já sabia dentro de mim. Eu senti o teu abraço, o nosso cheiro, os teus dedos no meu cabelo. Eu sempre soube que você sempre cuidaria de mim, se não daqui, de lá. Eu, sinto.

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