sábado, 6 de julho de 2013

de encontro.

Mais um passo. O mundo inteiro passando pela sua mente, o coração sambando feito passista na Sapucaí, os olhos passeando pelos relógios alheios, o suor escorrendo pelas têmporas a terminar em uma curva na ponta do queixo, pingando na gola polo da camisa rosê, escolhida dentre a pilha de roupa que restou largada em cima da cama. Devia estar perfeita, sem parecer que fez algum esforço ou se arrumou algum tanto para aquele momento. Chegavam e saiam pessoas entre os portões, entre chamadas, lágrimas, atrasos e esbarrões em malas mal dispostas no chão cinza, frio e liso. Fazia pouco sol, mas o calor parecia aumentar, junto com a respiração, a ansiedade e o medo. O medo de não reconhecer, o medo de sentir, o medo de não sentir. O medo de quem guarda por tanto tempo um brinquedo e quando vai brincar não tem mais graça ou alguma peça se perdeu. 365 dias sibilavam em sua boca, trezentos-e-sessenta-e-cinco-dias contados no calendário, nos dedos, nos lembretes e feriados. Presença ausente em todas as horas dos dias tediosos e chuvosos em que assistir televisão por uma tarde inteira parecia um fardo insuportável em sua vida de estudar, trabalhar e passar a madrugada esperando Alexandre se entender com a mudança do fuso horário e vir dar as caras às 2 da manhã. Tantas coisas que precisava contar, tantos conselhos que esperaram para ser dados e se perderam na confusão da distância, tanta saudade para matar que nem sabia se isso seria possível ao menos que passassem o próximo ano inteiro grudados como figurinha. 16:41. "Pela centésima vez moça, a previsão é que chegue às 17:00 horas." Os minutos pareciam brigar com o seu cérebro, já havia tomado 3 cappuccinos, checado o celular umas 10 vezes, ligado pra Ana e Carol, revisado todas as frases no espelho do banheiro, retocado o batom e o corretivo outras tantas vezes. Não era um simples oi, tudo bem? Era toda uma história que se passava, um tanto de mentiras que podem ter sido contadas, várias indagações, suposições, e-se-ele-conheceu-alguém?. Como poder prever o que se passou dentro dele nesse ano, nessa nova experiência. Austrália não é só o outro lado do mundo. É um mundo inteiro passado entre dois que achavam que seriam sempre o mundo um do outro. 16:55. Apenas 5 minutos separavam a expectativa e a possibilidade de um futuro. Suava mais ainda e resolveu trocar de blusa. É, tinha pensado em todas as possibilidades. Soltou o cabelo, o prendeu e soltou de novo. Conferiu todos os detalhes, repassou as frases no espelho, retocou o batom, perguntou as horas pras duas senhoras que entraram no banheiro e conferiu no celular para ver se não estavam atrasados. 17:00 horas. Pelo vidro podia ver os passageiros descendo do avião. Alguns apressados, outros calmos. E ele. Com seus cabelos lisos meio desgrenhados, com uma barba por fazer, com um charme que não podia ser explicado apenas pelas cores do sol indo embora no horizonte. Ah, estava sem graça, deveria ter vindo com outra blusa, mas agora já era tarde. Dirigiu-se ao portão de desembarque. E seus olhares cruzaram-se, terminando em um longo e confortante abraço que não podia definir-se. Apenas o tempo sanaria o tempo que passou e construiria o tempo que há de vir. Mas dentro do coração ela sabia todas as respostas.





PS: Não sei a resposta do coração dela. Talvez renda um outro texto cujo conteúdo ainda me é desconhecido. :)

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