domingo, 28 de julho de 2013

Talvez tivesse quebrado alguma lei secreta do Universo ou feito alguma coisa que fosse considerada pecado grave. Algo das encarnações passadas? Alguma, sina carma, praga, macumba das brabas? Não sabia. Mas sabia que de um jeito ou de outro, ainda que pouco se importasse ou pelo menos fingisse que não, vinha, noites sim, noites não, pegar-lhe não pelo pé, como monstro debaixo da cama vem pegar criancinhas nas histórias. Não chegava a ser um fardo que incomodasse todos os dias, se parecia mais com aqueles cortes pequenos que parece irradiar dor para todos os lados quando entra em contato com água. Uma dor que passaria despercebida, não fossem aquelas noites (e as vezes dias inteiros) que insistiam em fazer lembrar o seu destino. Quantos não dariam tudo para não sofrer por amor? Pra não sentir, não se iludir, pra não derramar rios de choro com desilusões? Mas Maria não era como as outras pessoas. Podia girar o mundo, ter uma pessoa em cada porto, mas amor, nunca iria saber o seu verdadeiro significado. Não amor propriamente dito, como aquele que temos por nossos pais, nossos, amigos, nossas coisas. Mas aquele amor que vem com a paixão, amor de se dar, de se derramar, de se jogar sem medo. Amor que todo mundo sente, do carinho, do gostar, do pensar no cheiro o dia inteiro. Maria era toda feita de momentos breves. Sua chama consumia e apagava tão rapidamente que nunca passava de um caso, de uma noite, de no máximo uma semana. E nunca entendia bem o por quê. E talvez não fosse para entender. Talvez fosse para viver intensamente os seus frames. E era isso o que Maria fazia, e o fazia bem. E não pesava sua mente por isso, não era culpa sua. Mas essa era uma daquelas noites de passar em claro. Com ou sem café, com ou sem sono, deitada na cama ou não. Os pensamentos viriam atacar sua mente, perturbar, trazer um choro sem motivo, uma agonia de vazio. Todas as músicas sem sentido pareciam ter sentido. Mas sabia que seria só por essa noite, ou pelo menos até que outras noites como essa viessem. E ainda assim, as perguntas pareciam cada vez mais distantes de uma resposta. Qual caminho teria que percorrer para um ia chegar perto de conhecer o amor? Que parafuso lhe faltou quando nasceu? Era humana oras. Sentir é o que nos faz saber que somos humanos, é o que faz com que entremos em movimento. E amor é uma das, senão a maior, provas de que sentimos. E se sentir é viver, amar é viver plenamente. Maria viveria sempre incompleta até que o amor chegue para provar o contrário? Um mundo inteiro por ai, 7 bilhões de pessoa e zero sentir. Como não achar que o problema seria com ela? Como não se encher de perguntas, como não observar cada milimetro de seus gestos, ações, corpo e até de seu modo de falar? Mas Maria era muito querida. Tinha muitos amigos, gostava de ajudar as pessoas. Maria era daquelas pessoas que nos fazem sentir bem, que exalava uma felicidade pura, sem motivos. Era feliz só por ser. Talvez esse tivesse sido o seu preço. Talvez sua sina fosse amar e se doar tanto pra vida, que a vida era sua companheira, Nasceu pra viver, pra amar a liberdade, o céu, o sol, o Universo inteiro. E nunca poderia ter um só amor. Era puro amor ela mesma. Qualquer amor menor que o amor a todas as coisas não caberia em sua forma, em sua alma. Mas nada disso importava a Maria naquelas noites. E essa era uma dessas. Queria mais é assistir um filme bobo de romance, em que todas as histórias se permeiam na mesma trama de encontro-> amor a primeira vista-> desencontro-> final feliz, ouvir músicas e procurar um sentido pra elas. E se imaginar amando, sofrendo por amor, amando de novo, e de novo, e de novo, e de novo. Assim como todas as pessoas normais.



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